Livro: Marina - Carlos Ruiz Zafón
“Em maio de 1980, desapareci do mundo por uma semana. No espaço de sete dias e sete noites, ninguém soube do meu paradeiro. (…) Uma semana depois, um policial à paisana teve a impressão de conhecer aquele garoto; a descrição batia. O suspeito vagava pela estação de Francia como uma alma penada numa catedral de ferro e névoa. O policial me abordou com um ar de romance de terror. Perguntou se meu nome era Óscar Drai e se era o rapaz que havia sumido sem deixar rastros do internato onde estudava. (…) Na época, não sabia que, cedo ou tarde, o oceano do tempo nos devolve as lembranças que enterramos nele. Quinze anos depois, a memória daquele dia voltou para mim. Vi aquele menino vagando entre as brumas da estação de Francia e o nome Marina se acendeu de novo como uma ferida aberta.”
POR COLABORADORA ANNA CLÁUDIA
É inegável que a principal temática de Marina é a morte e tudo que ela causa: medo, dor, loucura... Apesar de ter ficado famoso – pelo menos ao que me consta – apenas agora, esse é o quarto livro que Carlos Ruiz Zafón publicou, bem antes dos já aclamados A Sombra do Vento e O Jogo do Anjo. Classificado a princípio como um romance para jovens, mas com pretensão de atingir também adultos, Marina é de uma leitura mais leve e simples, mas nunca simplista. Zafón consegue conduzir muito bem a narrativa sem a necessidade de um vocabulário rebuscado, mas de maneira nenhuma limitado. Assim como em A Sombra do Vento, é possível ter as mesmas sensações que os personagens, tomar o lugar deles.
O que eu diria para quem vai se aventurar na deliciosa leitura desse romance é que uma coisa é essencial: estômago. O personagem principal muitas vezes reclama do odor de algo putrefato o rondando. Bem, digamos que em algumas cenas eu praticamente senti o mesmo odor saltar dos livros. Mas não se assustem! Bem, não com isso...
“A natureza é como uma criança que brinca com as nossas vidas. Quando cansa dos brinquedos quebrados, ela os abandona e substitui por outros. É responsabilidade nossa recolher as peças e reconstruí-las.” (Mijail Kolvenik, p. 85)
Não darei muitos detalhes, pois cada um é importante para a trama e não quero estragar a leitura de ninguém. O livro nos apresenta Óscar, um adolescente que vive em um internato de Barcelona em meados da década de 1970. Por um golpe do destino, ou apenas do ócio, acaba conhecendo Germán e Marina, pai viúvo e filha que vivem no casarão às traças do outro lado da rua. Mais uma vez o protagonista é um garoto curioso e apaixonado. Pergunto-me o quanto do próprio Zafón há em seus personagens. Marina, por sua vez, é uma menina que teve que aprender a cuidar do pai ao invés de ser cuidada por ele. Sua maturidade surpreende. Apesar de observar e até investigar mistérios alheios, gosta de guardar os seus para si mesma. É ela quem leva Óscar ao cemitério para ver a dama de preto, que sempre visita o curioso túmulo cujo nome havia sido substituído por uma borboleta negra. A partir daí, o envolvimento dos dois com o caso se aprofunda e é impossível sair da teia de aranha que se forma.
A história de Mijail Kolvenik e sua obsessão em reconstruir tudo aquilo "mal feito" pela natureza é fascinante e Zafón faz muitas críticas veladas – intencionais ou não – a quem gosta de “brincar de Deus”, principalmente no que tange a morte. Seria ela também um defeito que a natureza deixou escapar em todos nós?
Alguns dos mistérios do enredo são facilmente dedutíveis, outros nem tanto. Mas pode ser porque eu nem parei para pensar em hipóteses. A leitura de Marina flui rapidamente e mais interessante do que quem é o que, é o porquê de alguém ser o que é, e, principalmente, as consequências e o destino final de cada um. É provável que ao longo do livro muitos se perguntem porque diabos ele se chama Marina. Bem, esse é um dos melhores “mistérios”...
Talvez eu contradiga minha primeira frase e, antes de dizer que é uma história de mistério e morte, eu diria que Marina é uma história de amor. Dos antigos amantes, dos adolescentes, dos pais, dos amigos... É uma história belíssima que vai lhe causar arrepios e arrancar lágrimas.
Pode ser que já esteja virando puxa-saquismo, mas meus dedos me impedem de dar menos que 5 estrelas para Zafón.

Autor: Carlos Ruiz Zafón
Título Original: Marina
Origem: Literatura Espanhola
Editora: Suma de Letras
Tradução: Eliana Aguiar
ISBN: 9788581050164
Publicação: 2011
Páginas: 189
Título Original: Marina
Origem: Literatura Espanhola
Editora: Suma de Letras
Tradução: Eliana Aguiar
ISBN: 9788581050164
Publicação: 2011
Páginas: 189
Série: Não
O Que Tem?: Mistério, Fantasia, Romance
O Que Tem?: Mistério, Fantasia, Romance
Links: Skoob - Compre - Site do Autor - Site da Editora
Ainda não pude ler nenhum livro do Zafón, mas é incontestável o respeito que ele tem de seus leitores. Acho que só isso já me prova que o autor realmente se mostra bom.
ResponderExcluirBeijinhos
Já li A Sombra do Vento e amei! Esse livro parece ser tão bom...Mas antes pretendo ler o Jogo do Anjo.
ResponderExcluirE não posso deixar de falar do autor, que é sensacional! Ele sabe cativar completamente o leitor com sua história.
definitivamente Marina é um livro que irei ler.
Beijos.
http://booksedesenhos.blogspot.com
ahhh deve ser maravilhoso *--*
ResponderExcluirSombra do Vento é um dos meus livros preferidos e atualmente estou lendo (e amando) O Jogo Do Anjo!!
mal posso esperar pra ler este!
boa semana
;*
parece ser diferente, e legal :) adoro quando um autor me faz sentir o que o personagem está sentindo *_*
ResponderExcluiroie,
ResponderExcluirnunca li nada da autora, mas já li bons comentários sobre os trabalhos dela.
Sua resenha está bem legal, fiquei curiosa com o livro e estou com vontade de ler, rsrs.
beijos.
Sabe,
ResponderExcluirnunca me interessaria em ler um livro assim.. (a capa, o nome) Mas a sinopse é boa!
Eu só sabia dele pq a Marina (MVL) vive falando dele (afinal, tem o nome dela!)
bem, gostei mt da sua resenha e se fosse por ela até leria (apesar de eu não ter 'estomago),.. Mas realmente não parece meu estilo! rs
beijos
Evellyn
Oi,
ResponderExcluirAntes de ler a resenha eu pensava uma coisa, só de olhar a capa. E confesso que a impressão que eu tinha do livro era totalmente diferente.
Li a sinopse e gostei. Li a resenha e fiquei muito mais interessada. Porém, não compraria o livro. Ele não me desperta um desejo à ponto de comprar. Tenho interesse em conhecer a escrita do autor, afinal, não li nada dele ainda.
Enfim, ótima resenha. Muito bem escrita.
bjinhuxxx
Eu li e Divulgo
Eu tenho uma grande interesse em ler algo do Zafón, entretanto, Marina não é a obra que me desperta mais interesse. A sombra do vento tá na minha wishlist desde 2009. O talento dele é incontestável mesmo, pelas resenhas sempre positivas! Mas eu gostaria muito de ler Marina, um dia. Sua resenha é a primeira que leio do livro e é bem diferente do que imaginei!
ResponderExcluirBeijos
Mulher gosta de falar
Ainda não li nenhum livro do Zafón e essa é a primeira resenha de marina que eu vejo e que me deixou com muita vontade de ler o livro. Não gosto quando os autores colocam uma linguagem rebuscada demais, prefiro algo mais simples...
ResponderExcluirSe quiser conhecer meu cantinho (eu já estou seguindo aqui, Gislaine Alves): jeito-inedito.blogspot.com