Livro: Pessoas Normais - Sally Rooney

Uma história única e envolvente sobre dois jovens que devem enfrentar a eletricidade do primeiro amor em meio às sutilezas das classes sociais e dos problemas familiares. Sally Rooney é a voz da geração millennial. Na escola, no interior da Irlanda, Connell e Marianne fingem não se conhecer. Ele é a estrela do time de futebol, ela é solitária e preza por sua privacidade. Mas a mãe de Connell trabalha como empregada na casa dos pais de Marianne, e quando o garoto vai buscar a mãe depois do expediente, uma conexão estranha e indelével cresce entre os dois adolescentes ― contudo, um deles está determinado a esconder a relação. Um ano depois, ambos estão na universidade, em Dublin. Marianne encontrou seu lugar em um novo mundo, enquanto Connell fica à margem, tímido e inseguro. Ao longo dos anos da graduação, os dois permanecem próximos, como linhas que se encontram e separam conforme as oportunidades da vida. Porém, enquanto Marianne se embrenha em um espiral de autodestruição e Connell começa a duvidar do sentido de suas escolhas, eles precisam entender até que ponto estão dispostos a ir para salvar um ao outro. Uma história de amor entre duas pessoas que tentam ficar separadas, mas descobrem que isso pode ser mais difícil do que tinham imaginado. O fenômeno literário da década. ― The Guardian
AVISO: Este livro contém alguns gatilhos ligados à saúde mental e violência doméstica.

Desde Abril sem me recuperar da series finale de Fleabag, daí me aparece Sally Rooney pra desenterrar mais emocional enterrado. Ha!

Como seu sentimento por ela poderia jamais ser igual ao sentimento que tinha por outras pessoas?

Connell e Marianne vivem próximos, mas em realidades distintas. Ambos moram no interior da Irlanda, e estão se preparando para ingressar na faculdade e para todas as mudanças incluídas neste pacote; inclusive um novo lar. Connell tem muito que guardar de sua época colegial e em relação aos seus colegas de classe. Era um bom atleta, considerado popular, principalmente entre as garotas; enquanto para Marianne será um novo começo, já que sempre era vista como a esquisita do rolê, sem amigos, e muitas vezes sofria bullying.

Desde que seu pai falecera, a garota tornara-se ainda mais reclusa. A mãe de Connell, Lorraine, trabalha como empregada na casa de Marianne. Os dois sempre fizeram o possível para que o pessoal no colégio nunca desconfiasse. Fingiam ser dois estranhos frequentando o mesmo local por algumas horas. Só falavam-se ocasionalmente quando ele ia buscar a mãe. Até aquele fatídico dia de 2011. O simples "oi" tornou-se uma longa conversa, com estranhas confidências e, então, Marianne decidiu se entregar a Connell.

Antes de partirem para nova etapa de suas vidas, passaram boa parte do tempo juntos, mas ainda escondiam dos colegas o tipo de conexão que tinham. Connell, acreditando que Marianne prefere seguir desta maneira, decide não convidá-la para o baile. Marco do primeiro desencontro entre eles, pois só consegue rever Marianne tempos depois, na universidade. E encontros e desencontros é o que resume bastante o relacionamento entre eles. A autora apresenta os capítulos com passagens de tempo, às vezes mínimas; outras longas.

"Bom, eu não sou digna de amor. Acho que eu tenho um tipo pouco amável de... Eu tenho uma certa frieza, sou difícil de gostar."

Na universidade o jogo vira. Marianne consegue todos os olhares para si, e está sempre rodeada de amigos. Todos querem estar ao seu lado e apreciam sua presença em festas. O único amigo de Connell é seu colega de alojamento, Niall, embora comece a nutrir estranhos sentimentos sobre aquele lugar. Muitas vezes sente que não se encaixa, ou que não é certo estar ali. Sempre que reencontra Marianne a atração entre eles acaba por renascer, mas por certo tempo. As amizades dela soam como de outro mundo pra ele.

Nestas indas e vindas, ambos iniciam relacionamentos amorosos com outras pessoas. Tentam ao máximo preservar a amizade, mas Marianne raramente esconde certos pontos que a incomoda nos relacionamentos dele. Connell ama voltar à  cidade natal, rever a mãe e seus amigos; a antiga vida de Marianne a corrói cada visita. Ainda mais com o péssimo tratamento que recebe da mãe meio negligente e do irmão, que se mostra tão abusivo quanto o pai era. E é quando a felicidade torna-se uma máscara. Seus namoros não parecem tão saudáveis; sempre expondo-se a coisas doentias, como procurasse o terrível tratamento familiar em outros lugares. Marianne começa a acreditar que é uma pessoa ruim e só merece a dor.

Mais tarde o apego ao lar começa a cutucar a saúde mental de Connell e, também, sua vida acadêmica. Após um de seus amigos do colégio cometer suicídio, ele começa a questionar tudo naquele local, sua classe social, seus ideais, seu futuro... E, conforme as páginas avançam, é nítido que qualquer tipo de amor que sintam um pelo outro, pode ser a única coisa válida para vencer suas dores.

"Meu filho falou que você está ignorando os telefonemas dele, Lorraine acrescentou.
Sim, ela disse. Imagino que eu esteja mesmo.
Bom pra você, Lorraine disse. Ele não te merece."

Esta história inicia em 2011 que, por coincidência, foi a época em que eu estava finalizando a faculdade. Naturalmente, me conectei com os dois protagonistas em diferentes pontos. Adicionando o fato que adoro coming of age, principalmente filmes indie neste estilo - ao ler Pessoas Normais me senti assistindo um deles. Sempre pegam na transição, não costuma ser aquele romance jovem de sempre; explora muito o lado emocional nessa fase. Alguns são mais amenos, outros nem tanto.

É incrível que, conforme as páginas avançam, o contraste na vida de Marianne e Connell se faça tão marcante. Começando pela diferença de classe e como ingressar numa faculdade renomada acaba por afetar ambos; e a criação... Connell foi criado por mãe solteira. Ele e Lorraine são como melhores amigos, e até a chama pelo nome em algumas ocasiões. Mas não interpretem Marianne como uma esnobe. Nada disso. Lembre-se que é uma personagem que acredita que não é pra "ser amada". Como viveu muito tempo sem relacionamentos saudáveis é como se tudo fosse novo pra ela, e acaba por muitas vezes agir como ingênua, pois não consegue enxergar o desprezo que ronda a vida acadêmica de Connell.

Os dois são ótimos protagonistas. Sério, não consigo ter um favorito. Ambos são maduros e inteligentes e conversam sobre tudo. Amam ler sobre tudo. Política e filosofia são o ponto alto de boas trocas entre eles. E sabem como ser sarcásticos. O velho e bom humor irlandês. Marianne é super sincera, raramente esconde o que sente dele. Muitas vezes o deixa sem saber o que dizer. A virada emocional de Connell foi o que acabou me surpreendendo, em vista que já sabemos sobre parte de Marianne desde as primeiras páginas, então sua apresentação emana otimismo. E foi quando eu comecei achar que o livro teria um final desgracento. Mas acabou sendo um doce amargo.

"Aos poucos, começou de verdade a se questionar por que todas as discussões em sala de aula eram tão abstratas e sem detalhes textuais, até que, uma hora, ele se deu conta de que a maioria das pessoas, de fato, não estava lendo os textos. Estavam indo à faculdade todos os dias para travar debates acalorados sobre livros que não tinham lido."

A narrativa de Sally Rooney é meio diferentona. Ha! Os diálogos são a narrativa, entendem? Não há sinalização para eles. A conversa é crucial e é o que faz o romance. Acredito que seja a primeira vez que eu esbarro com esse tipo de construção. Não me incomodou; na verdade, a escrita dela dialoga perfeitamente com o estilo proposto. Sim, há narrativa a parte também, e ela nos leva para vários lugares pela Europa, preciso dizer.

Pessoas Normais está conquistando pessoas no mundo inteiro. Sally Rooney arranca elogios e prêmios por onde passa, e muitos aguardam ansiosos por suas próximas histórias. Acabo de me incluir nesta lista, pois é ótimo encontrar autores que dialogam perfeitamente com a gente - ainda mais emocionalmente. Como Connell, cheguei no meio da vida acadêmica com uma cria de saúde mental pra cuidar. Como Marianne, às vezes sinto que ficar longe mudará tudo, e também tenho uma certa frieza e sou pouco amável. E para completar, ela ainda me presenteia com o lance do foco na escrita nessa fase conturbada. E mais ou menos na época em que me interessei... AAAAA A SENHORA TÁ FALANDO COMIGO?

"Todos esses anos eles foram como duas plantinhas, dividindo o mesmo pedaço de terra, crescendo um ao redor do outro, se contorcendo para criar espaço, tornando certas atitudes improváveis. Mas, no fim, ela fizera algo por ele, tornara uma nova vida possível, e sempre poderá se sentir bem por conta disso."

"Mas para ela a dor da solidão não vai ser nada se comparada à dor que costumava sentir, de não valer nada. Ele lhe trouxe a bondade como uma dádiva, e agora isso é parte dela."

Como mencionado, o final é um doce amargo. É satisfatório. Não é triste, mas rola um tipo você decide os caminhos por que a jornada da vida está sempre mudando, né? O carrossel adora nos colocar em outros testes quando tudo parece estar resolvido. Talvez ela dê uma mexida na adaptação, que será uma série com doze episódios. Ela vai roteirizar alguns.

Edição lida em e-book, em parceria e cedido através da plataforma NetGalley. Não era a versão final, mas a leitura fluiu muito bem. Achei a ideia da capa interessante. Após a leitura dá pra interpretar de várias maneiras e uma das minhas é que representa a sintonia perfeita entre eles, quando estão conectados. Não de uma maneira sexual - apesar de ter, ha - mas quando estão juntos.

*Adaptações:

Normal People (2020) | Direção de Lenny Abrahamson e Hettie Macdonald com roteiro da autora;
. Produção em parceria entre a BBC e o streaming americano Hulu. Contará com 12 episódios;
. Lenny Abrahamson é conhecido diretor pela adaptação de O Quarto de Jack;
. Daisy Edgar-Jones e Paul Mescal serão os protagonistas Marianne e Connell (clique aqui e confira elenco confirmado).

Autora: Sally Rooney
Título Original: Normal People
Origem: Literatura Irlandesa
Editora: Companhia das Letras
Tradução: Débora Landsberg
ISBN: 9788535932560
Publicação: 2019
Páginas: 264
Série: Não
O Que Tem? Encontros e Desencontros, Amizade, Saúde Mental

LinksSkoob Compre Físico - Compre E-bookNo Site da Editora - Site da Autora
O Canto Cultzíneo agradece ao Grupo Companhia das Letras por ceder o exemplar para análise.



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Comentários

  1. Olá, Nana.
    Eu já fui muito fã de livros nesse estilo, mas hoje faz tempo que não leio mais. Não sei se me daria bem com o estilo de narrativa escolhido pela autora e também fique em dúvida sobre esse final. Então não sei se leria ele hehe.

    Prefácio

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  2. Oii Nana

    Eu tb gosto muito de livros coming of age, porque traz personagens mais maduros do que os do YA e nem tão adultos como seriam os de NA. Mas vou te ser sincera, fiquei com receio dessa narração da autora, é um estilo diferente que posso amar muito ou nem um pouco..haha. Eu até gosto de finais assim, onde vc decide e imagina os rumos do personagens, deixam uma sensação meio agridoce geralmente. De momento, por tudo de emocional que o livro traz não sei se seria um bom momento pra ler ele, li algumas leituras assim ultimamente e to necessitada de algo bem mais levinho, mas quem sabe futuramente.

    Beijos

    www.derepentenoultimolivro.com

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  3. Oi, Nana!
    Pelo que você descreveu das protagonistas, acho que eu me veria na Marianne. Não só pelo nome haha mas também pela forma mais fria de ser. Apesar da sua resenha ser super cativante e que demonstra o quanto você gostou da leitura, não sei se estou no momento certo de ler. Mas vou deixar anotado aqui.
    Beijinhos,

    Galáxia dos Desejos

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  4. Oi, Nana

    Então é esse bendito que tá lá e para o qual eu torci o nariz por causa da capa!
    Primeiro, não entendi o lance dos diálogos serem a narrativa. Já são quase duas da manhã e provavelmente nem estou raciocinando mais, então releve! Hahahah
    E eu curti muito essa proposta aí, viu?! Não tinha nem chegado a ler a sinopse por causa da capa mesmo, mas achei a trama com uma complexidade super bem-vinda. Gosto de tramas onde a gente acompanha os personagens durante um período de tempo e onde conseguimos ver suas evoluções e até mesmo suas involuções.
    Adorei que vai ter série, MAS PQ HULU? #chateada

    Quero ler!!!


    Beijos
    - Tami
    https://www.meuepilogo.com

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  5. Olá..
    Adorei a sua resenha!
    Ainda não conhecia a obra em questão, mas pelos seus comentários pude perceber que com certeza é um livro que me agradaria. A premissa é bem legal e, é claro, já anotei a sua dica!
    Bjo

    http://coisasdediane.blogspot.com/

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  6. Oi Nana, tudo bem?
    Esse rolê de passagem de tempo com encontros e desencontros me lembrou Um Dia e Simplesmente Acontece. Mas, claro, com uma carga emocional bem mais pesada.
    Fiquei super interessada na história, mas fiquei com receio do final. Não ando numa vibe boa pra sofrer, por mais que não seja 100% triste, deu pra sentir que não é 100% feliz/comercial de margarina rs.
    Beijos,

    Priih
    Infinitas Vidas

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  7. Eu nunca li nada nesse estilo porém acho que ia amar demais. Tenho evitado livros com gatilhos mas acho que está na hora de voltar. A construção do relacionamento deles e a forma como disse que o livro é narrado me deixou bem curiosa. Até mesmo para saber mais sobre esse final agridoce.

    Abraço,
    Parágrafo Cult

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  8. Oi, Nana!

    Achei bacana a premissa da história, a diferença entre os dois personagens em muitos sentidos, mas que no fim eles sempre se sentem bem quando estão juntos. Pelo final doce amargo que você comentou, não tenho um pressentimento de que a coisa termina muito bem, mas fiquei curiosa em descobrir!

    xx Carol
    https://caverna-literaria.blogspot.com/

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  9. Oi Nana,
    Se você me pedisse para falar sobre o título e capa, NUNCA NUNCA iria falar que o livro seria como você o descreveu. E eu nem sentiria vontade de lê-lo, PORÉM saber das temáticas intensas e importantes, me deixou com vontade de desvendar essa história.
    Gosto de livros que mexem com minhas emoções.
    P.S.: Estou pensando em começar Fleabag, mas achei que fosse comédia, rs. Para você ver meu nível aleatório!
    beeeeeeijos
    https://estante-da-ale.blogspot.com/

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  10. Confesso que eu não sou muito fã desse estilo de livro, por conta da historia mesmo, parece ser levemente dramática e eu nao custo mesmo isso. Eu gosto muito de livros de terror. Por[em sua resenha ficou incrível!

    Adorei o post!

    Post novo: www.jessribeiro.com.br

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  11. Oi Nana,
    Não é muito meu tipo de leitura, sou mais de fantasia e/ ou terror, mas às vezes uma ressaca literária pede um livro diferente. Achei interessante a reviravolta dos personagens principais e fiquei curiosa para saber como termina. Por esse motivo eu arriscaria a leitura.

    Até mais;
    |Mente Hipercriativa (Blog) | Mente Hipercriativa (Fanpage)|

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  12. Oi Nana!
    Esse livro tem absolutamente TUDO pra me ganhar! hahah
    Estou bem ansiosa pra conferir!
    Adoro diálogos, quando escrevo, é a parte que eu mais gosto de fazer!
    Adorei a resenha ♥
    Bjs
    http://acolecionadoradehistorias.blogspot.com

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