Livro: Fangirl - Rainbow Rowell

Da mesma autora de Eleanor & Park, uma história emocionante sobre amor em suas diversas formas e o poder da literatura em momentos difíceis, agora em uma nova edição. Cath é fã de Simon Snow, uma série de livros que faz sucesso no mundo todo sobre um garoto feiticeiro. Mergulhar nessas histórias foi a única maneira que ela encontrou de lidar, junto com sua irmã gêmea, Wren, com a partida da mãe quando eram crianças. Desde então, a vida da garota se resume a ler, participar de fóruns sobre Simon Snow na internet, escrever fanfics, fazer cosplay dos personagens... Sempre ao lado da irmã. Mas agora Wren parece pronta para se distanciar do fandom de Simon Snow -- e da própria Cath. Afinal, ela deixou bem claro que é hora de cada uma trilhar seu próprio caminho quando avisou que não queria dividir o mesmo quarto na faculdade. Pela primeira vez, Cath se vê sozinha -- e totalmente fora de sua zona de conforto --, e com uma colega de quarto mal-humorada que tem um namorado (bem fofo) que não sai do dormitório das duas. Para completar, ela também precisa se preocupar com o pai solitário e com sua professora de escrita literária, que abomina fanfics. Será que ela vai conseguir sobreviver a tantas mudanças e começar a viver a própria vida? E será que seguir em frente significa deixar Simon Snow para trás? * Best-seller do New York Times.* Escolhido como um dos melhores livros juvenis pelo New York Times Book Review (2013).*

AVISO: Esta narrativa contém abordagem sobre saúde mental - ansiedade e depressão -, coma alcoólico e abandono maternal.

Toda forma de escrita vale a pena!

Cather Avery está iniciando sua jornada na vida acadêmica, mas nada soa tão animado quanto deveria ser. Ela não é uma jovem tão sociável. Desapegar não é um lema, pois segue acreditando que manter tudo como está é a opção perfeita. Suas três relações reais se resumem a seu pai, a irmã gêmea e um rapaz que considera um namorado. Ao chegar no alojamento da universidade, Cath se vê obrigada a dividir - não só o dormitório e suas barrinhas de cereais -, sua vida com Reagan, uma colega de quarto pra lá de hostil, e o possível namorado dela - o extrovertido Levi.

Cath pode ser considerada tímida pelas pessoas ao seu redor, mas quando escreve se realiza. A vida real pode soar pacata e sem graça, todavia nos fóruns da internet Cath é uma sensação. Antigamente Wren, sua irmã gêmea, animava-se tanto quanto ela na construção dos capítulos das fanfics - além de compartilharem toda euforia pelo universo do feiticeiro Simon Snow - uma série de livros repleta de magia e mistério criada pela autora Gemma T. Leslie. E, claro, toda essa conexão está se desfazendo com a chegada da faculdade na vida das irmãs: enquanto Cath é a irmã tímida, Wren é a irmã descolada que mal vê a hora de formar vários contatinhos e frequentar todos os eventos possíveis.

Escrever sobre Simon Snow nunca é/foi apenas um passatempo para Cath. É um refúgio! Quem entra em sua vida sabe que terá a companhia de Simon e todo seu universo. Infelizmente isso será um problema em sua jornada universitária, pois faz a garota pensar em desistir em vários momentos. Cath usa o mundo de Simon Snow para aprisionar feridas que não gostaria de tocar. Cada irmã absorveu de uma maneira o abandono maternal, assim Cath é aquela que guarda ressentimentos. O problema é que o mundo real começa lhe exigir a libertação. Apesar das rasteiras da ansiedade, Cath começa se esforçar para fixar uma vida ali no campus, como abrir-se a união com o charmoso Nick para um trabalho de escrita.

Conforme as semanas passam, Wren fica cada vez mais enturmada em seu "novo mundo" e distante de Cath - e muitas vezes arrumando problemas. A preocupação de Cath com o pai aumenta, sobretudo quando retorna pra casa nos dias livres e começa a notar certas mudanças no comportamento dele. Até que as inúmeras e divertidas tentativas de Levi para incluí-la se tornam um acalento, além de Reagan estranhamente se preocupar com seu isolamento e alimentação. Ela é daquele tipo mal-humorada engraçada, então não é difícil conquistar a atenção de Cath e tirar mais que meias palavras dela.

Então para Cath resta se abrir para este novo mundo repleto de novidades não tão esperadas e nem controladas por ela. Afinal, a vida também é repleta de plot twists, não é?

"- O que a gente tem em comum?

- Gostamos um do outro - ele disse. - O que mais importa?"

Fangirl é um dos meus livros favoritos da Rainbow Rowell. Mas não é lá tão difícil se identificar com jovens adultos na linha do coming of age: do ensino médio para a vida universitária é um longo caminho de redescobertas. O medo do novo é real. E no caso da protagonista Cath ainda há um ponto a mais para alimentar paranoias: a ansiedade. Quem convive sabe como é complicado aceitar mudanças tão bruscas, reformulando nossa rotina e convívio. A gente finge que desapega, mas não é bem assim e parece que dificultamos tudo. Ha! Por isso consigo e muito absorver a construção de Cath - volta e meia leio resenhas a chamando de chata. Fazer esta releitura me conectou ainda mais com ela. Derrubar uma zona de conforto não é fácil para todos, especialmente quando a ansiedade está fixa, sobretudo quando precisamos DEIXAR.

Dizer a vocês que fui a adolescente sonhadora que resolveu emendar o término do ensino médio na vida universitária e cheia de idealizações; com tudo que sei hoje - aos trinta e um anos - não teria feito isso. Ha! Foi difícil assistir o distanciamento dos pouquíssimos que cheguei a considerar amigos, simplesmente porque não eram realmente. Demora, mas a vida mostra. Boa parte das coisas que a gente cogita nem acontecem na faculdade, então foi uma época em que eu me senti muito sozinha. Por fim comecei a fuçar comunidades no finado Orkut de duas coisas que eu super curtia na época: Orlando Bloom e Supernatural. E foi assim que as fanfics entraram na minha vida. Comecei a ler - e rabiscar também - e me conectou com muita gente bacana que tenho contato até hoje! Mas diferente de Cath, eu sempre tive consciência de que era uma vida paralela. A protagonista de Fangirl não consegue se encaixar na realidade, pois a teme. Ela não consegue se valorizar a ponto de concretizar as demandas do curso de Escrita Criativa. Cath acredita que serve apenas para adaptar, não criar.

E haja criatividade da autora! Além de partes das fanfics de Cath, a autora também apresenta excertos de Gemma T. Leslie, dos livros 'originais' de Simon Snow. As histórias de Cath veem Simon e seu arqui-inimigo, o vampiro Baz, como secretamente apaixonados. Rainbow abusa da metalinguagem, ainda apresentando uma narrativa fácil, jovial, novamente com questões válidas, mas também sabe ser divertida, além da dominação dos diálogos. A narrativa dominada por diálogos é um dos motivos que me fazem amar ler suas histórias. Os momentos divertidos são garantidos por Levi e Reagan. E preciso mencionar que adoro a maneira como Rainbow anula certo glamour da vida universitária como a ascensão e queda da Wren, acrescentando as inúmeras vezes que Cath precisa correr - com o celular na mão e com número emergencial na discagem - para retornar ao alojamento.

" - Todas as células cerebrais que eu deveria usar na leitura servem pra guardar coisas."

E precisamos falar sobre Levi... é claro! Lembro que em meu primeiro contato com este livro não consegui simpatizar tanto com o rapaz. Desta vez o queridômetro disparou de fofura por aqui. Não faço ideia do quê tenha mudado, mas é um personagem tão carismático e com um lado tão humano que gostaria de encontrar mais nas pessoas. Ainda tem a questão que ele não é como todos os garotos 'galãs', 'ricos' e 'atléticos' que costumamos encontrar neste tipo de enredo. Outros coadjuvantes também me conquistaram: Reagan, claro, e o pai das meninas, Art - que é um amorzinho e divertido também - e segue sendo meu crush número dois do universo Rainbow Rowell. Ha! O primeiro lugar é do Neal de Ligações.

Depois de toda essa lambida, nem é necessário afirmar que Fangirl é mais do que indicado por aqui. Seja você amante da escrita ou não, a leitura vale uma chance. Fangirl é uma singela homenagem a qualquer forma de contar histórias, além do incentivo aos jovens que almejam incluí-la no seu dia-a-dia. Arrisque-se, mas não deixe de observar a realidade. Aliás, o melhor é sempre unir os dois.

Eu adoro as edições da Seguinte - curto e muito a fonte e o tamanho que eles escolhem, super confortável para a leitura. Fora que acho bonito. E os capítulos não tão longos ajudam fluir pelas páginas, então não se assustem com a quantidade delas. Partes das fanfics de Cath, além dos livros originais da série Simon Snow, também estão incluídos na história. Alguns batem com acontecimentos futuros na vida de Cath; bem perspicaz. Não notei grandes erros na revisão e, como sempre, ótimo trabalho de tradução. A narrativa é dominada por referências joviais e trocadilhos. Ah! E para quem curtiu a arte na capa, a editora usou a da imagem acima para o marcador. Para quem não sabe, os livros da Seguinte vêm com marcador na orelha, daí o leitor só precisa cortá-lo.

"- Talvez eu goste de ter você só pra mim."

E antes que perguntem: sim, é recomendável ler Fangirl antes da trilogia Simon Snow. Sempre leio várias resenhas negativas de Carry On, ou Sempre em Frente, falando que é cópia de Harry Potter. GENTE, tem um motivo, né? HAHA! Para compreender o fato de soar tanto como HP precisa ler Fangirl, sim! A trilogia Simon Snow foi 'um carinho' que Rainbow fez pra Cath e suas fanfics. É como se fosse as fanfics de Cath publicadas.

Autora: Rainbow Rowell
Título Original: Fangirl
Origem: Literatura Americana
Editora: Seguinte
Tradução: Lígia Azevedo
ISBN:  9788555341151
Publicação: 2020
Páginas: 464

Série: Não

Spin-off: Trilogia Simon Snow
O Que Tem? Saúde Mental, Casos de Família, Crush Zé do Mato, Fanfic, Gêmeas

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O Canto Cultzíneo agradece ao Grupo Companhia das Letras (Seguinte) por ceder o exemplar para análise.

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