
Rio de Janeiro, meados do século XIX. A elite carioca não perde uma peça no Teatro Lírico e se diverte em festas glamorosas. É nesse cenário que Paulo desembarca na capital do império, pronto para se aventurar nas noitadas da Corte. Mas ele nem imagina que vai conhecer a estonteante Lúcia. À primeira vista, a linda mulher não passa de uma cortesã de luxo - mas, sob plumas e joias, um passado devassador a consome. Ingênuo e apaixonado, Paulo é o único que poderá desvendá-lo.

Um pouco de clássico brasileiro neste especial!
Lucíola é meio que uma releitura de A Dama das Camélias, do autor francês Alexandre Dumas-filho, sendo até citado em uma cena neste romance. Ambos foram publicados na mesma época. Admiro bastante o trágico romance de Marguerite e Armand, assim a história de Lucíola também despertou meu interesse.
O romance faz parte de uma trilogia do autor, Perfis de Mulher, que destaca seus outros romances urbanos protagonizados por mulheres: Diva e Senhora. A primeira edição foi publicada em 1862, então esperem uma linguagem mais rebuscada. Apresenta Lúcia - a cortesã mais cobiçada do Rio de Janeiro sob o olhar apaixonado do narrador Paulo.
Paulo relembra a época que chegara ao Rio de Janeiro, em 1855, lá pelos seus 25 anos. De Olinda, parte de seus costumes seguiam simples - apesar de seu grande amigo Sá ser descrito com ar burguês e, praticamente, viver para festas. E numa dessas festas é que Paulo se atrai por Lúcia. Atração era apenas o início. Logo o rapaz se vê enlaçado por toda luxúria em torno da bela mulher.
Após as apresentações feitas pelo amigo e antigo amante da cortesã, Paulo dá um jeito de reencontrá-la em várias oportunidades e ensaiar uma aproximação de forma cordial. É aquela coisa de querer provar que é diferente dos outros. Entre conversas poéticas e confissões ardentes, Lúcia permite suas visitas e, posteriormente, investidas. Paulo é nutrido de idealizações à sua figura. Embora seja detestável estar ciente do que os outros comentam, além de ter que esbarrar pelas ruas com seus possíveis clientes. Todos sabem que Lúcia é uma cortesã e ama o luxo.
Brigas que geram longos dias sem uma troca de palavras são frequentes. Mas o autor as usa como uma tática para amadurecer o relacionamento entre os dois. Financeiramente, Paulo não é nem metade dos amantes que costumam frequentar a casa de Lúcia. Mas há algo que a faz implorar a presença dele em sua vida. Lúcia é uma personagem tomada por segredos. Sua construção exala mistério até a conclusão da narrativa. Sério, finalizei a leitura desconfiando - e muito - sobre o quê mais ela escondia; que não tinha revelado tudo.
"Almas como as de Lúcia, Deus não as dá duas vezes à mesma família, nem as cria aos pares, mas isoladas como grandes astros destinados a esclarecer uma esfera."
Aquela promessa do início de meta literária: vamos inserir mais clássicos. Ha! Quem não faz, não é mesmo? E confessar para vocês que não sabia da relação com A Dama das Camélias até ler comentários em algumas resenhas. Então veio o "agora vai" quando comecei a pensar em opções para o TOCANDOAMOR deste ano. O primeiro confronto, óbvio, foi com a linguagem da época. Neura boba. Tanto que estou aqui compartilhando as minhas impressões. Há esse tom secreto que marca a construção de Lúcia que nos enlaça nas palavras do rapaz.
O romance é narrado por Paulo, que está relatando todas as lembranças ao lado de Lúcia para uma senhora, em cartas, assim a narrativa segue em primeira pessoa. Conforme o leitor conhece a musa pelos olhos do protagonista, acaba por soar meio cruel nos tirar um olhar dela perante algumas da situações. Por isso comentei sobre o vazio de revelações, por parte de Lúcia, quando tudo finaliza. E Paulo também não cativa quanto o esperado. Parte de seus pensamentos são críticas à sociedade da época, entretanto seus ímpetos raivosos se resolveriam com uma simples conversa. Lúcia é mais nova que ele e soa bem mais madura, viu? O cara ficou irritadinho porque os colegas acharam que ela estava sustentando ele...
As trocas entre Paulo e Lúcia são o grande ponto do romance. Conversas que soam como pura poesia; um tom erótico elegante em que o leitor pode sentir até a troca de olhares saltar das páginas. Lúcia é uma personagem verdadeira e não esconde suas opiniões facilmente. Sempre pronta para palavras duras e sabe valorizar sua presença. Mas também tem seus momentos de submissão: acha que não merece felicidade por causa do trabalho mundano. A simbologia religiosa em torno dos seus nomes também marcam as linhas de José de Alencar.
"Agora que a minha vida se conta por instantes, amo-te em cada momento por uma existência inteira. Amo-te ao mesmo tempo com todas as afeições que se pode ter neste mundo. Vou te amar enfim por toda a eternidade."
E não posso encerrar a análise antes de contar minha babação pelo cenário, simplesmente porque alguns dos locais mencionados ainda são bem presentes aqui no Rio. A Rua do Ouvidor é um grande destaque. Toda vez que Paulo a mencionava, eu fechava os olhos lembrando meus passos na época em que trabalhava numa loja por lá. Bobona.
Lucíola integra a coleção de romances urbanos do autor. São tramas livres das tretas do império e tanta política. Embora, como mencionado, os cutuques não estejam completamente de fora. Por aqui encontramos as mazelas da sociedade que tudo opina e afirma. Paulo inicia a narrativa cheio de amigos burgueses e depois todos somem - ou ele quis se afastar. Fica aí mais um mistério. Ha!
"Os beijos que lhe guardei, ninguém os teve nunca! Esses, acredite, são puros!"
Esse é um dos e-books da coletânea 'Gratuitos da Quarentena', então quero finalizar agradecendo à editora pelo presente. Ha! A edição está incrível, cheia de ilustrações que se conectam com o romance. O texto está integral, sem tantas modificações em respeito ao autor - e também pela a época da publicação - e sinalizo que foi o ponto que mais curti. Várias palavras que não fazem parte do meu minguado vocabulário. O Kindle ajuda bastante, sempre revelando o significado ao selecionar a palavra em questão, e precisei usar com as mais loucas.
*Adaptações:
- Essas Mulheres (2005) | Novela - Abertura
. Novela exibida pela Record TV. A adaptação foi dos três romances urbanos: Lucíola, Senhora e Diva;
. Lúcia e Paulo foram interpretados por Carla Regina e João Vitti.
****
- Lucíola, o Anjo Pecador (1975) | Filme - Algumas Cenas
. O filme é um remake de outra adaptação: Anjo do Lodo;
. Lucíola e Paulo são interpretados por Rossana Ghessa e Carlo Mossy;
. Pelas fotos no IMDB é claramente para maiores. Ha!
****
- O Sabor do Pecado (1967) | Filme
. Paulo e Lúcia são interpretados por Roberval Rocha e Irma Alvarez;
. Não encontrei nenhum vídeo ou mais informações.
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- Anjo do Lodo (1951) | Filme - Imagens
. Lançado em preto e branco;
. Sofreu censura em sua época de lançamento, de políticos a religiosos. E tudo por causa de uma silhueta;
. Lúcia e Paulo são interpretados por Virgínia Lane e Claúdio Nonelli.
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- Lucíola (1916) | Filme
. Lançado em preto e branco e mudo;
. Lucíola e Paulo são interpretados por Aurora Fúlgida e Franco Magliani.


Origem: Literatura Brasileira
Editora: edição Melhoramentos
ISBN: 9788506074015
Publicação: ed. 2012
Páginas: 208
Série: Não
O Que Tem? Cortesã, Romance Dramático, Clássico, Romantismo, Rio de Janeiro Imperial
O Que Tem? Cortesã, Romance Dramático, Clássico, Romantismo, Rio de Janeiro Imperial
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Oi Nana,
ResponderExcluirConfesso que geralmente abandono os clássicos, não tenho muito problema com escrita rebuscada (na verdade, acho até bonita), mas sempre acho a história em si maçante, linear... muitos dos clássicos que já tentei ler quase não tinham uma narrativa ágil. Talvez eu tentasse ler Lucíola por causa dos segredos dessa personagem tão misteriosa. Além disso, amo uma crítica social, por isso consegui terminar O Cortiço e Triste Fim de Policarpo Quaresma, haha.
Beijo, Blog Apenas Leite e Pimenta ♥
Nossa, com certeza ler clássicos não é para qualquer um, mas ao mesmo tempo deve ser muito interessante. Não conheço esse livro.
ResponderExcluirwww.vivendosentimentos.com.br
Oi Nana,
ResponderExcluirFaz alguns anos que não tento ler um clássico. Desde quando meu projeto de um clássico por mês foi pro ralo, eu meio que abandonei tudo mesmo, sabe?
Acho que traumatizei, mas preciso voltar, preciso me forçar para não perder grandes histórias!
beeeijos
http://estante-da-ale.blogspot.com/
Oie Nana .Tudo bem?
ResponderExcluirEu li "Luciola " a tanto tempo que nem lembro direito das coisas.Tenho que reler esse livro.
Eu acho os personagens masculinos do Alencar meio sem sal haha, eu gosto mais das mocinhas dele. Eu lembro mais da Aurelia do que do Seixas e deste eu nem lembrava o nome do mocinho.
Na epoca que eu li , emendei essa leitura com "A dama de Camelias", acho que na edição que eu tinha ja havia algum texto falando da ligações dos livros e uma cena a Lucia aparece lendo "A dama de Camelias " ( e em "A dama das camelias " , a protagonista lia "Madame Bovary")
Eu só sabia da adaptação do "Essas mulheres " inspirada nesse livro ,nem sabia das outras adaptações
Amei o post
Beijos
https://mundinhoquasepefeito.blogspot.com
Olá, Nana.
ResponderExcluirEu li esse livro na época da escola, mas confesso que já faz tanto tempo que nem me lembro da história. E também foi naquele época que a gente lia meio que por obrigação para fazer prova e já lia meio que não gostando do livro hehe. Do autor gosto muito de Senhora.
Prefácio
Oi Nana, tudo bem?
ResponderExcluirConfesso que preciso dar uma nova chance a alguns autores clássico. Como vários títulos eram obrigatórios na escola, admito que na época fiquei com um leve ranço de algumas obras.
Beijos;***
Ariane Gisele Reis | Blog My Dear Library.
Olá...
ResponderExcluirSempre gostei muito de ler clássicos, mas, confesso que ultimamente ando os deixando de lado. O livro Senhora do José de Alencar é um dos meus clássicos favoritos e, é claro, ao ler sua resenha me lembrei que há um tempo atras estava querendo ler esse também.
Bjo
http://coisasdediane.blogspot.com/
Nunca tinha ouvido falar desse livro, apesar de ser bem diferente do que eu gosto de ler, achei bem interessante.
ResponderExcluirhttps://www.heyimwiththeband.com.br/
Oi Nana, tudo bem?
ResponderExcluirTambém adoro aumentar meu vocabulário com leituras assim, especialmente se estou lendo no Kindle (no livro físico é menos conveniente, envolve ir pro Google rs). Eu acho que me irritaria demais com o Paulo maaas fiquei curiosa em conhecer a Lúcia.
Beijos,
Priih
Infinitas Vidas
Oi Nana, eu li Lucíola há muitos anos e me lembro de ter gostado muito. Adoro José de Alencar, na verdade, li praticamente tudo dele quando era bem novinha. Deu vontade de reler!
ResponderExcluirBeijo :*