Livro: Ela é uma Fera! - Marina Carvalho #TOCANDOAMOR

“A megera domada” é uma peça de William Shakespeare, escrita em 1596. É uma de suas comédias mais conhecidas e já passou por diversas adaptações. Trata-se da história de Batista, rico fidalgo de Pádua, Itália, e de suas filhas, Catarina e Bianca. Enquanto a caçula Bianca é uma doce e meiga menina, Catarina é dona de um gênio difícil, irascível, sendo considerada uma verdadeira megera. Com sua língua ferina, afasta todos os pretendentes, deixando Bianca desesperada, que precisa esperar a irmã se casar para poder também escolher um pretendente. Até que surge Petrucchio, um grosseirão disposto a tudo para conquistar o dote de Catarina. Cheia de reviravoltas, a peça discute amor e casamento, tornando a obra atual até hoje. Nesta releitura, Catarina se torna Carolina, uma estudante de Comunicação Social da Universidade Federal de São João Del Rei. Embora a época seja outra, o gênio da menina continua tão terrível quanto o da protagonista da peça original. Dessa forma, a nova versão de “A megera domada” ajusta-se aos tempos de hoje para levar aos leitores uma história clássica, imortal, recontada com muito humor e com o máximo de fidelidade, com o objetivo de respeitar a obra original do grande dramaturgo inglês William Shakespeare.

É ela, a Catarina... corre!

Este pequeno livro é uma releitura de A Megera Domada, obra de William Shakespeare. E, sim, você lembrou da novela O Cravo e a Rosa e do filme 10 Coisas Que Odeio Em Você - ambos também releituras da obra do bardo.

Lucas Curtis caiu de paraquedas em São João Del Rei, em Minas Gerais, quando seu pai decidiu se aposentar e largar toda a boa vida em solo norte-americano e voltar as origens. O garoto, que já se sentia confortável com a vida gringa, agora terá que começar tudo de novo. Felizmente Tito, seu primo, não lhe deixará bancar o novato esquisito. E felizmente Clara está naquele colégio.

Clara Batista é a filha caçula de Roberto Batista, um grande empresário local que criou as duas filhas sozinho após o abandono da esposa. Ainda adolescente, Clara sonha em viver tudo que esta fase da vida proporciona - mas será impossível. Considerada a beldade local, não tem permissão para saídas ou sequer namorar. Graças a uma regra estúpida criada por seu pai, Clara só terá permissão de namorar quando ingressar na universidade ou, milagrosamente, sua irmã mais velha arrumar um namorado. 

Conhecida na cidade como ~a megera~ Carolina Batista realmente não faz questão em agradar a todos. Sua vida se resume a ir faculdade e se trancar em casa. Em raros momentos de lazer a jovem nada na piscina do clube local. Por seu temperamento explosivo, Carolina vive em pé-de-guerra com Clara, que guarda ressentimentos em relação a tudo que não pode aproveitar por causa da irmã.

Cientes de toda essa trama, Lucas e Tito decidem armar um plano para que o novato se aproxime e conquiste Clara. Mas não contavam com a esperteza de um concorrente: o riquinho e mimado Henrique Biondello, que não mantém intenções tão boas quanto as de Lucas perante a doçura de Clara. Colocando em prática seus pensamentos ardilosos, Henrique sabe que a pessoa perfeita para domar a fera está em uma das repúblicas mais antigas de São João Del Rei.

Pedro Verona é o típico bad boy, daqueles que só uma expressão basta para alguns desistirem de se aproximar. Henrique, com muito receio, decide instigá-lo a participar de sua armadilha para ter Clara. O rapaz se vê rendido pela baita quantia oferecida, já que precisa para quitar uma dívida de vida ou morte. E assim começam as táticas para fisgar Carolina, a fera de São João Del Rei.

Por sorte eles estudam na mesma universidade; por azar os cursos são bem diferentes. Mas Verona é criativo! E mesmo que atravesse o campus só para navegar pelo mundo de Shakespeare e, também, o de Carolina, ele não desistirá facilmente do trabalho. Trabalho, assim que denomina. Não durará muito, né?

"Defendia a máxima de que não precisava adular ninguém para se sentir aceita e agia conforme suas verdades."

Dizer que o cenário escolar e adolescente talvez não me pegasse tanto na introdução pelo fato dos primos Lucas e Tito terem passado uma vibe pré-adolescente não tão convidativa. Mas toda memória nostálgica e simpática - das outras releituras - acaba por abraçar esta leitura, que também consegue se destacar com sua personalidade. A autora Marina Carvalho fez bem em apresentar esta comédia romântica em território nacional com uma narrativa simples, ágil e bem desenvolvida. Além do grande apreço pelas tramas em cidades pequenas, pois o disse-me-disse sempre rende boa risada.

Todos sabem que a família Batista é o alvo preferido dos comentários por causa do temperamento de Carolina. Ninguém ali é recebido com graça da parte dela e, certamente, tem alguma história pra contar envolvendo sua querida acidez. Quem sofre com todo desprazer dos outros perante a família é Clara, que não pode aproveitar as mesmas coisas que as amigas. Carolina jamais facilitará a regra criada por seu pai, além de não ser nem um pouco receptiva aos apelos de Clara. Então as duas vivem aos gritos e emburradas uma com a outra. Clara tem aquela construção inocente, mas sabe ser ácida quando quer - principalmente quando conversa com o pai.

E com tanta proteção é nítido que Clara se torna a preciosidade entre os garotos da escola. É linda e inalcançável. Seu ar impossível inicia a disputa entre Henrique, que só quer se divertir, e Lucas, que preza todas as boas maneiras românticas. O bad boy Verona acaba por ser a salvação de ambos, pois Clara terá que decidir quem é o melhor pra si enquanto a irmã arruma mil e uma maneiras para não cair na lábia de Verona. É uma dança bem louca e divertida de casais, mas no fim, acredito, que os personagens fizeram escolhas corretas.

"Se tudo ocorresse conforme planejara, em pouco tempo estaria sentado diante de Clara, conjugando o verbo "to be" no presente, pretérito e particípio."

Não tem como mentir: as cenas focadas em Carolina e Verona se fazem de maior interesse. O rapaz se empenha nos encontros e desencontros. Aos poucos, também, descobrimos o motivo que o levou aceitar a grana de Henrique. Com uma construção que exala sedução, Verona esbanja o carisma certeiro para a conquista. Por outro lado, não enxerguei o tanto de fera em Carolina - e isso é um elogio, viu? Acredito que a personagem é apenas madura demais para o meio em que vive. A irmã é muito imatura e todas discussões em sua casa permanecem nesse nível e em torno das manhas dela. Então, nada como Verona representar o ar liberto que ela tanto sonha. E é um ponto para se identificar. Muitas vezes a gente sente que não se encaixa mais na nossa família e quer ficar no nosso canto, né?

E esse tom imaturo da Clara é um ponto não tão positivo na leitura. A coisa clichê do garoto popular bonitão versus o nerd fofinho até tenta amenizar os ataques chatos da personagem, mas seu comportamento talvez não agrade todos os leitores. Um outro ponto negativo a mencionar é a questão da ausência materna que desejei uma explicação melhor e explorada.

"- E preciso conhecer essa tal Carolina. Se ela for muito mocoronga, juro que desisto do... projeto.

- Mocoronga, não. O problema dela é o gênio.

- Ah! Menos mau, porque o meu também não é lá grandes coisas."

"O mundo lá fora não nos pergunta o que queremos, mas sim, o que devemos fazer."

No mais a leitura de Ela é Uma Fera! pode acrescentar muito em uma tarde. A escolha da terceira pessoa é sempre muito bem-vinda - adoro - e nesta narrativa só se enxerga acertos, dando espaço para todos gritarem seus sentimentos, seja qual for. A conclusão é suficiente, mas um epílogo ou anos depois em mais páginas faz falta.

Edição lida em e-book. Esta é uma nova edição publicada exclusivamente na Amazon. A anterior foi publicada pela editora Novo Conceito. Quem lembra? Ótima diagramação, com parte da imagem da capa sinalizando os capítulos, no caso nominados Atos em alusão à peça - estes também iniciam com trechos da obra original, A Megera Domada. Pelo número de páginas nota-se que pode ser uma leitura rápida, daquelas de um dia. Formatação e revisão também estão com ótimo trabalho. Sempre leio coisas pequenas da autora, logo quero pegar um de seus livros maiores.

Mais alguns quotes:

"O Aurélio que a perdoasse, mas havia conseguido usar sem pudor uma bela relação de verbetes impróprios para menores. Como era bom ter o vocabulário diversificado."

"- Pai, eu nunca fui beijada!

- Graças a Deus!"

"Até quando seria desiludida pelas pessoas a quem decidia amar?"

Até o momento da publicação da postagem: e-book disponível no Kindle Unlimited (caso não esteja, você pode encontrar outros e-books do autor e editora disponíveis para emprestar)

Autora: Marina Carvalho
Origem: Literatura Brasileira

Recomendação do Canto: +14 anos
Editora: independente - Amazon BR
ASIN:  B08HPPQQQP
Publicação: ed. 2020
Páginas: 110

Série: Não

O Que Tem? Releitura, Shakespeare, Faculdade, Irmã Caçula, Primos, Grana, Aula de Inglês, Beijo na Piscina

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