Série: Dahmer - Monster: The Jeffrey Dahmer Story (2022) #ÉRÉLOUIN

Por mais de uma década, Jeffrey Dahmer conseguiu matar 17 jovens rapazes sem levantar suspeitas da polícia. Como ele conseguiu evitar a prisão por tanto tempo?
Certamente Jeffrey Dahmer é um dos assassinos em série mais notórios dos últimos anos. O cara ainda é objeto de estudo e curiosidade de muitos criminólogos; difícil não se impressionar e horrorizar pelo nível de sadismo que ele mantinha perante suas vítimas. A série Dahmer, idealizada por Ryan Murphy e Ian Brennan, que trabalharam juntos em Glee e seguem a parceria em todas as séries do acordo multimilionário com a Netflix, revisita este caso de maneira fictícia, seguindo o ponto de vista das vítimas e de outras pessoas que acabaram arrastadas para uma culpa que não era delas.

A série é realmente pesada - deixando claro, logo de início, para quem nunca leu nada sobre o caso: Dahmer desejava tornar suas vítimas zumbis, assim permanecia com os corpos, ou partes, por um tempo e, por vezes, os consumia. O roteiro empurra o motivo para o abandono maternal - lembra que eu disse que a série é fictícia, né? Boa parte de suas vítimas eram minorias - negros, imigrantes e LGBTs. A produção explora bastante a questão de como as autoridades locais ignoraram por décadas a movimentação do assassino. Sim, eles devolveram uma das vítimas a ele e isso, infelizmente, não foi ficção.

O assassino Jeffrey Dahmer é interpretado por Evan Peters | credits: Netflix

A produção de dez episódios reúne, mais uma vez, Ryan Murphy e seus queridinhos Evan Peters e Niecy Nash. Evan, conhecido por seus personagens na série American Horror Story, foi o escolhido para nos transmitir o ápice da sandice de Dahmer, e o faz com maestria se destacando pelo empenho em relação a aparência e sotaque que chega ser assustador de tão similar. É interessante a escolha ~poucas palavras~ para a entrega do personagem, já que só a presença dele em cena é perturbadora. Mesmo conhecendo rastros do caso, como uma boa fã de true crime que sou, a construção do primeiro episódio é certeira, não só pela tensão, mas porque o cenário acerta com o tom de surpresa mesmo para quem conhece. A ideia foi iniciar a história pela última vítima para que todo caso fosse montado nos episódios seguintes.

Dahmer passou horas e horas prestando depoimento após ser capturado pelas autoridades locais. Parte dos episódios retratam a sombra que ele era na vida de seus pais, da avó e amigos do colégio. Mencionei que a série é do ponto de vista das vítimas, né? Sim, o roteiro meio que considera os pais de Dahmer parte delas, principalmente Lionel - o pai, interpretado por Richard Jenkins visto na série Six Feet Under. Agora vocês entendem parte do burburinho controverso em relação a série, né? Mas sinalizo que também dão vozes para algumas das 17 vítimas e suas famílias. Destaco a família laosiana Sinthasomphone que tem uma forte presença até o último episódio. E pode ter a certeza de que o episódio 6 será aquele marcante! Ele é do ponto de vista de uma das vítimas e, também, da mãe dele e tem uma carga emocional - bem pesada - e que necessita do apoio e da empatia da audiência.

Ainda na linha das vítimas ocultas conheceremos Glenda Cleveland, interpretada por Niecy Nash vista na série Scream Queens, que é retratada de maneira bem fictícia como vizinha de Dahmer. A verdadeira Glenda morava em outro prédio da área, mas apreciei o fato desta construção ser uma maneira de representar todos os moradores do prédio e arredores; ser a voz deles. Ela é aquela que carrega uma culpa silenciosa após tudo ser exposto. Niecy Nash demonstra uma conexão muito bonita e tocante com essa personagem, e a gente agradece por seu tempo em cena que é de suma importância para a trama. Até o último minuto ela tenta dar algum tipo de voz as vítimas e curar o que sente.

A personagem Glenda, de Niecy Nash, tenta manter a memória das vítimas | credits: Netflix

E toda trajetória de Glenda na série também nos leva a questão da falha das autoridades locais. Logo no primeiro episódio ela expõe que fez contato com eles várias vezes e não a ouviram. Como mencionado acima, aquela área era uma vizinhança bem residida por minorias. O preconceito - seja racismo, homofobia e xenofobia - era o primeiro ponto para as autoridades não se envolverem ali. E nas diversas ocasiões que tiveram oportunidade para capturar Dahmer também falharam - até um juiz fica fascinado em uma cena com sua aparência de "padrão que não faria nada do tipo e mudaria". Dahmer havia sido fichado algumas vezes e nunca pararam pra fazer tal checagem, nem perante a devolução de uma das vítimas.

E esse tom crítico e político da série foi o que mais me satisfez ao assistir. Perceber que consigo notar essas coisas e me indignar de verdade, além de notar outras pessoas tão indignadas quanto. Por outro lado, acho que a produção decepciona no exagero de episódios. Eu daria no máximo uns 6 episódios. Os canais britânicos conseguem entregar dramas baseados em true crime em 3 episódios, minha gente! Uma outra negativa fica para a cronologia confusa. A narrativa da série não é linear, acredito que siga pela cena do depoimento do assassino no fim do primeiro episódio. Mesmo assim é muito confusa, e deixa desejar a transição dos anos 70 para o início dos 90. Sério, como o neto da Glenda estava daquele tamanho todo no supermercado, o que eu perdi? Acabou me lembrando outro drama baseado em true crime, Dr. Death, que também tem a cronologia bem confusa apesar de, também, ter uma ótima entrega.

A cena do julgamento refaz momentos de destaque nos documentários sobre o caso Dahmer | credits: Netflix

E uma surpresa é que boa parte dos episódios são dirigidos pela Jennifer Lynch, ela mesma filha do homem, que está um bom tempo nessa ótima parceria com Ryan. Um dos episódios finais vale e muito pelo maravilhoso trabalho dela. Só me incomodou a ideia da galera da arte achar que esse amarelo dominando tudo seria lindo, para fazer referência à lente do assassino, mas a fotografia entrega a sensibilidade necessária dos envolvidos neste cenário horripilante. Nos episódios finais há menção de outros assassinos, um deles já está fazendo o pessoal cogitar uma nova temporada.

A série é uma ótima opção para os fãs mais corajosos do estilo. Mas precisam ter consciência de que uma série adaptada de um crime real nunca seguirá linha por linha dos fatos, por vários motivos, entre eles é que a história necessita ser contada e que o drama tem de acontecer. Ainda leio pessoas nos perfis da Netflix chamando erroneamente a série de documentário. Não é, gente! É uma série fictícia de horror, como a minissérie Landscapers, também baseada em true crime, é uma dramédia-fantasia. Agora, o capítulo dele recém-lançado de Conversations with a Killer é sim um documentário - depois vem comentários lá na coluna. Fiquem de olho!

Optei por não colocar o quadro com as vítimas, pois não quis transformar essa análise em algo sensacionalista, mas fica minha honra à memória deles com esse frame | credits: Netflix

E uma pena que as redes sociais tornaram algo sério, que poderia servir de alerta, além de debates sérios para pessoas da área criminal, em um show de horrores. Previamente nós testemunhamos o mesmo tipo de agitação com o caso da "mulher lá da casa". Essa galera vive em outra realidade, né? Criminosos não são personagens de filme da Marvel.


Título Original: DAHMER - Monster: The Jeffrey Dahmer Story
Título Nacional: Dahmer: Um Canibal Americano
Status: Finalizada (10 episódios)
Nacionalidade: Norte-Americana
Criadores: Ryan Murphy e Ian Brennan
Roteiro: Ian Brennan, Ryan Murphy, David McMillian, Reilly Smith, Janet Mock e Todd Kubrak
Adaptação: Baseada no caso real do assassino Jeffrey Dahmer
Ano: 2022
Censura: 18 anos
Duração de Episódios: 60 min
O Que Assistirei? Horror, Drama, Biografia, Policial, Baseado em True Crime
Elenco Principal: Evan Peters, Nicey Nash, Richard Jenkins, Molly Ringwald, Karen Malina White, Penelope Ann Miller, Rodney Burford, Michael Leonard, entre outros.
Abertura/PromoTrailer
Canal Americano: Netflix
Canais Brasileiros: Netflix
Prêmios/Indicações: ?

Comentários

  1. Oi Nana, tudo bem?
    Gostei da sua resenha e do fato de você comentar sobre as partes delicadas, assim como das ressalvas a cerca da trama. Mas confesso que não é uma série que eu queira ver.

    *bye*
    Marla
    https://loucaporromances.blogspot.com/

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  2. Eu ainda não consegui terminar a série
    estou bem no finalzinho, mas gostando bastante. Tem cenas bem delicadas, por isso estou vendo aos poucos rs

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  3. Oi Nana! Só vi comentários sobre essa série ultimamente, mas não tenho coragem de conferir. Esse tipo de história baseada em fatos reais, é perturbadora demais para mim. Bjos!! Cida
    Moonlight Books

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  4. Oi Nana, tudo bem?
    Depois de assistir Monster, eu fui ver o episódio de Conversations with a Killer. Menina, fiquei chocada com o quão fidedigna a série foi, mesmo dramatizando algumas coisas. Pra mim ela foi ótima em expor o racismo e a homofobia das autoridades, sem idolatrar o psicopata (diferente do que ocorre em muitas produções parecidas).
    Beijos,

    Priih
    Infinitas Vidas

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  5. Já ouvi falar muito bem dessa série, mas não curto muito esse gênero, prefiro outros temas. Fica a dica para quem curte.
    Big beijos
    www.luluonthesky.com

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  6. Oi
    todo mundo falando dessa série, mas ainda não assisti e na verdade não tenho muito interesse, mas quem sabe um dia, até no meu serviço o pessoal comentou dela. Pelo que tá falando realmente parece ser uma série bem pesada.

    http://momentocrivelli.blogspot.com/

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  7. Essa série está na minha lista, mas sei que ela é bem pesada e ainda não tomei coragem para começar. Eu, sinceramente, não conhecia o caso até esse lançamento, e num momento oportuno planejo assistir, sim.

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  8. Eu adoreeeei essa série e por mais que a história seja pesada eu não achei a série tão pesada, porque gosto muito de séries criminais.
    Sem dúvidas, uma das melhores do ano!

    https://www.heyimwiththeband.com.br/

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  9. Assisti o trailer e achei a série bem pesada. Tenho vontade de assistir em breve.

    Boa semana!

    O JOVEM JORNALISTA está no ar com muitos posts interessantes. Não deixe de conferir!

    Jovem Jornalista
    Instagram

    Até mais, Emerson Garcia

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