Livro: O Galinheiro - Amaurício Lopes #Booh!
Uma vez por ano, no mesmo feriado, Maria Neide da Silva e Francisco roubam algum galinheiro da cidade de Palheiros com os filhos. Movidos por uma suspeita quanto ao paradeiro da filha do meio, desaparecida há seis meses, invadem o quintal da maior e mais imponente casa da cidade, a única que fica do outro lado do rio. Dentro da propriedade, precisam tomar cuidado para não ser percebidos. E medo e coragem se alternam numa luta desesperada não apenas pela verdade, mas também pela vida.
No início da narrativa o autor destaca alguns gatilhos, verifique antes da leitura.
O Galinheiro é um horror nacional, do autor cearense Amaurício Lopes, dividido em três partes. O cenário é uma cidadezinha no interior do Ceará onde o leitor conhecerá a família de Maria Neide da Silva, que mantém uma tradição de família em toda semana santa: roubar galinhas. De acordo com o finado antepassado, a sexta-feira santa é o único dia do ano em que Jesus, por ter morrido nessa data, não via os pequenos delitos. Ha! Eles também comentam sobre não fazer as tarefas de casa, algo que também me tirou boas risadas. O filho mais novo, Nuno, está bem animado, pois será sua primeira vez na empreitada.
Mas não se engane! Os momentos bem-humorados marcam a dinâmica inicial da família, pelo menos até o anoitecer da trama despontar. A casa "vítima" da família, desta vez, é a do prefeito da cidade - uma bela propriedade localizada no outro lado do rio. E a escolha não é à toa: Francisco, o patriarca, achara uma pista que pode por um fim na angústia que a família carrega por seis meses. Rita, a filha do meio do casal, desaparecera sem deixar rastros. Não só ela, mas várias meninas da mesma idade começaram a desaparecer pela cidadezinha ao longo dos anos, mas logo todo caso caia em esquecimento. Mas não para os pais...
E Francisco achara a tal e única pista em meses justamente na belíssima e honrosa propriedade do prefeito. As esperanças ressurgem na mãe, que acredita que lá obterá suas respostas em relação a filha desaparecida. Então, acompanhados dos outros dois filhos, o casal atravessa o rio para cumprir a tradição e possivelmente amenizar uma dor. Mas a madrugada será longa, repleta de suspense e segredos macabros desenterrados.
"Antes as plantas cresciam. Tinha tomate, cebola e jerimum para ela, o marido e os filhos. Muita coisa nem precisava comprar na feira. De repente, tudo ficara seco, que nem dentro dela."
Na segunda parte conheceremos os moradores da propriedade no outro lado do rio. O prefeito e o irmão, um médico respeitado da cidadezinha, dividem a residência desde que o primeiro passou por uma experiência devastadora em sua vida familiar. Ambos herdaram o respeito que os antepassados conquistaram pelas ruas daquele local ao longo dos anos; parte sempre envolvido em meio a política. O autor detalha os anos em que o patriarca desenvolveu uma obsessão pela taxidermia - pontapé inicial para os segredos que adormecem naquela casa.
Com uma narrativa que desenrola praticamente em 24 horas, o enredo é daqueles que nada passa batido: desde as reflexões de Maria Neide em relação às suas plantas mortas a um boneco que Nuno está montando para um concurso local. Surpresa fiquei ao notar o valor que o autor dá a estes símbolos e outros durante a trama. Inclusive ao próprio galinheiro, que não comentarei para não estragar a dedução de vocês - ao lerem - em relação ao quê acontece por lá. Segue-se uma soma de acontecimentos que defino como triste e horripilante.
"Naquela casa em que o silêncio era soberano e ao mesmo tempo revelava seus segredos."
A primeira parte entretém pela simpática construção em torno da empreitada da família, que logo dá espaço para um cenário repleto de suspense e receios da parte dos personagens. Após invadirem atravessarem rio e lidarem com os perigos antes de alcançarem o galinheiro, os pais simplesmente decidem ficar e investigar o local após ouvirem um barulho suspeito. Mas quem disse que as crianças iriam respeitá-los por completo? Quem é fã de tramas envolvendo casas assombradas vai adorar a ambientação entregue pelo autor.
A entrada na casa. A escuridão. Objetos de formas estranhas e assustadoras. Enfim, prato cheio para despertar interesse de fãs do estilo, como euzinha. Claro que há algumas críticas sociais no meio em que os personagens vivem, e como tentam rebaixá-los de maneira "educada", como o caso da empregada da casa e a filha - mais o desaparecimento das meninas de baixa renda. E mais implícito ainda é como as pessoas usam da boa aparência, status e lábia para ludibriar pelo poder - isso é meio assustador também, não é?
E a segunda parte desta trama é essencial para a construção de toda vilania proposta pelo livro. É onde o autor se empenha em entregar mais detalhes, mas alguns leitores podem estranhar a mudança no fluir das páginas. Achei importante a construção do passado e presente dos irmãos, e acredito que se não houvesse certo destaque me incomodaria. É pesado, real e triste.
"O medo era como um veneno sem antídoto, um erro sem reparo, um parasita que tivesse se incrustado por baixo da pele em definitivo e não parasse de arranhar."
Por outro lado, a empolgação poderia ser interrompida em parte da conclusão que grita excesso. Não que eu tenha odiado, mas é o ponto onde o excesso de detalhes me incomodou como se precisasse de mais e mais provas - e exaltação - para/de uma punição. E toda questão em torno do emocional da Maria Neide me deixou triste - ou com curiosidade mórbida mesmo, vai entender ha! - mas entendo, e muito, o fato do autor ter optado por afastá-la de algo que envolvesse ego e tals. Uma boa ação também conforta, não é? Mas preciso dizer que fiquei bem feliz pelos doguinhos...
O Galinheiro é uma leitura mais que indicada para os amantes de um cenário instigante; repleto de suspense e segredos. Adoro narrativas que se passam no interior de qualquer lugar, pois sempre fico curiosa com a maneira que os autores irão apresentar seus personagens, tradições e manias. E, geralmente, acompanhados de ótimas histórias cabulosas que "só acontecem no interior", que um dia é noticiado e no outro esquecido - às vezes nem noticiado né?
O maior atrativo para esta leitura foram o título e a capa, é claro, ha! Adoro o trabalho do Marcus Pallas - adorei as cores escolhidas e tals. A diagramação e revisão seguem ótimas, praticamente não notei erros. Adorei a dinâmica entre as partes, elas se conectam na terceira. Eu adoro essas coisas. Ha!
"Era sempre filha de gente como Francisco, gente que morava nos bairros perto do carnaubal, gente que morava perto do rio. Era coisa que o povo que morava no centro parecia não se importar nem fazer questão de ficar lembrando. Chegara a ouvir certa vez que era o esperado num município tão pobre e que era cruzado por caminhões e por tantos carros cheios de promessas vazias."
E fica o aviso que o autor pesa nas descrições das mortes que ocorrem na trama, então caso você seja mais sensível...
VERSÃO EM VÍDEO:
Recomendação do Canto: +18 anos
Editora: Independente | Amazon - disponível no KUnlimited assine
ASIN: B0BC5BL2QP
Publicação: 2022
Páginas: 208
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Publicação: 2022
Páginas: 208
Série: Não
O Que Tem? Horror Nacional, Ceará, Interior, Galinhas, Galinheiro, Semana Santa, Tradições, Casarão do Terror, Segredos do Passado, Legados, Doguinhos, Adolescentes Desaparecidas
O Que Tem? Horror Nacional, Ceará, Interior, Galinhas, Galinheiro, Semana Santa, Tradições, Casarão do Terror, Segredos do Passado, Legados, Doguinhos, Adolescentes Desaparecidas
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Oi Nana! Já pensou de a moda pega e o pessoal acha que nesse dia tudo pode, que não vai receber castigo. Essa parte da história achei bem engraçada pela sua descrição, mas pelo visto depois o negócio fica pesado e bem macabro. Fiquei muito interessada na história, adoro ambientação em cidades do interior com um toque de terror. Bjos!!
ResponderExcluirMoonlight Books
Não conhecia, mas pelo que li parece ser bastante interessante!
ResponderExcluirBjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram
Olá, tudo bem? Encontrei o seu blog por conta de um comentário em outro blog que eu acompanho. Fiquei curioso com a resenha e com o livro. Eu gosto de histórias de terror, tendo lido um bocado delas ao longo da vida. Já li algumas coisas de terror escritas por autores nacionais, mas na minha opinião ninguém superou ainda Álvares de Azevedo, com seu "Noites na Taverna". Você conhece? A resenha foi instigante e me fez pensar em escrever algo do gênero. Acho que escrever terror requer um requinte e certo grau de imaginação que são invejáveis. Abraço!
ResponderExcluirNão curto muito a temática terror, mas fica a dica para quem gosta do gênero.
ResponderExcluirBig Beijos
www.luluonthesky.com
Oi Nana, tudo bem?
ResponderExcluirTem um filme de terror que fala sobre um dia em que todos os crimes saem impunes, não? Me lembrei de algo assim enquanto lia a resenha.
Achei bem instigante essa premissa e acho que dá pano pra manga. Leria, se tivesse a oportunidade!
Beijos,
Priih
Infinitas Vidas
Oi Nana,
ResponderExcluirQue livro intrigante! Fiquei curiosa para saber o que aconteceu com as meninas. Gosto mais de ler suspense do que livros de terror, mas gostei da história desse ^^
Bjos
Kelen Vasconcelos
https://www.kelenvasconcelos.com.br/
Oi
ResponderExcluireu gosto de narrativa instigante apesar de andar lendo poucos do estilo, não conhecia nem a história e nem o autor, parece ser bem escrito e que bom que gostou da leitura.
https://momentocrivelli.blogspot.com/
Oi Nana, tudo bem? A história parece ser bem interessante. Eu também adoro tramas que se passam no interior do Brasil e inclusive tenho usado as redondezas de onde eu moro para ambientar alguns contos. Fiquei curiosa, mas atenta aos gatilhos antes de ler.
ResponderExcluirAté breve;
Helaina (Escritora || Blogueira)
https://hipercriativa.blogspot.com
https://universo-invisivel.blogspot.com
Oie, fiquei maravilhada pelo livro se passar no nordeste, adorei a proposta da história, mesmo que eu não tenha o costume de ler livros tão pesados periodicamente. Vou adicionar para tentar ler futuramente.
ResponderExcluirBjs
Imersão Literária
Oi Nana, tudo bem?
ResponderExcluirTerror não é meu gênero favorito, mas achei a trama interessante. Também fiquei curiosa pelo mistério envolvendo o sumiço das meninas.
*bye*
Marla
https://loucaporromances.blogspot.com/