Livro: A Nuvem - Neal Shusterman

No segundo volume da série Scythe, a Ceifa está mais corrompida do que nunca, e cabe a Citra e Rowan descobrir como impedir que os ceifadores que não seguem os mandamentos da instituição acabem com o futuro da humanidade. Em um mundo perfeito em que a humanidade venceu a morte, tudo é regulado pela incorruptível Nimbo Cúmulo, uma evolução da nuvem de dados. Mas a perfeição não se aplica aos ceifadores, os humanos responsáveis por controlar o crescimento populacional. Quem é morto por eles não pode ser revivido, e seus critérios para matar parecem cada vez mais imorais. Até a chegada do ceifador Lúcifer, que promete eliminar todos os que não seguem os mandamentos da Ceifa. E como a Nimbo Cúmulo não pode interferir nas questões dos ceifadores, resta a ela observar. Enquanto isso, Citra e Rowan também estão preocupados com o destino da Ceifa. Um ano depois de terem sido escolhidos como aprendizes, os dois acreditam que podem melhorar a instituição de maneiras diferentes. Citra pretende inspirar jovens ceifadores ao matar com compaixão e piedade, enquanto Rowan assume uma nova identidade. Mas talvez as mudanças da Ceifa dependam mais da Nimbo Cúmulo do que deles. Será que a nuvem irá quebrar suas regras e intervir, ou apenas verá seu mundo perfeito desmoronar?

Não há nada perfeito...

Essa resenha é sobre o segundo livro da trilogia O Ceifador. Se preferir, pode comentar em outra postagem. Leia a resenha do primeiro livro clicando aqui.

Apesar do aviso, me esforcei ao máximo para não dar spoilers. ;)

No primeiro volume - O Ceifador - conhecemos toda funcionalidade envolvendo a era pseudo perfeita criada por Neal Shusterman. Não há desemprego, pobreza, doenças, alta taxa de violência e alguns se julgam imortais pelo tanto que utilizam dos avanços proporcionados à tecnologia atual. As pessoas podem se curar, optar por amenizar as dores e os casos mais graves, passam pelo centro de revivificação. Há quem considere se restaurar, voltando aos anos de glória e não são impedidos. Aliás, é algo praticado inúmeras vezes, por um mesmo humano. Porém, o controle da natalidade veio com a fundação da Ceifa, a irmandade dos ceifadores.

Atualmente, tudo na Terra é controlado pela Nimbo-Cúmulo - evoluída da nuvem de dados. Contudo, ela não pode interferir no trabalho da Ceifa. Em A Nuvem, acompanhamos relatos dela - entre os capítulos - e seus sentimentos em relação a essa escolha. Muitas vezes, sofre calada e precisa assistir seu trabalho se despedaçar. Enquanto a Nimbo-Cumulo é perfeita, a Ceifa é uma organização cheia de falhas e corrupções. Por sorte, há quem deseja interferir.

Citra Terranova e Rowan Damisch continuam ligados à Ceifa, apesar de seguirem caminhos opostos. Rowan é um lobo solitário e está nutrido por certa sede de justiça. Não vê o trabalho da Ceifa com bons olhos e começa a investigar alguns dos ceifadores. Por outro lado, Citra tem um trabalho a fazer ao lado de sua mentora, a Ceifadora Marie Curie - também conhecida como Dama da Morte -, e em menos de um ano, fez seu nome dentro da irmandade, o que significa respeito e também alguns inimigos.

Inimigos. Há um inimigo à espreita ameaçando a segurança da Ceifa, principalmente de Citra e Marie. A Nimbo-Cúmulo sabe disso e em seus relatos, notamos certo afeiçoamento por Citra. Infelizmente, não pode alertá-las, mas quem sabe outra pessoa? É assim que o jovem Greyson Tolliver entra na história. Ele foi, praticamente, educado pela Nimbo-Cúmulo. Ela é perfeita, não lembra? Isso também inclui cuidar de crianças ignoradas pelos pais em toda Terra. Mas, Greyson não imaginava que sua pseudo ajuda o colocaria na mira da Ceifa e lhe causaria certos conflitos emocionais. Sua introdução ainda nos apresenta a forma como a religião se encaixa na era atual. Sim, há quem discorde do trabalho da Ceifa e não se agrade com os benefícios da Nimbo-Cúmulo. São os denominados tonistas. Greyson tem uma participação importante neste volume e o autor deixa uma bela brecha para seu retorno.

Rowan também não está livre do perigo. Aliás, o garoto nos deixa com coração na mão durante toda leitura. Ele enfrenta perdas - uma gera uma cena bem bizarra -, reencontra inimigos e claro, é obrigado a enfrentar as consequências de seus atos em O Ceifador. Então, tenha certeza que cenas eletrizantes te esperam em A Nuvem.

"Para deixar claro, nem todos os meus atos são perfeitos.
As pessoas confundem uma característica com um conjunto de ações. Vou tentar explicar a diferença.
Eu, a Nimbo-Cúmulo, sou perfeita.
Isso é verdade por definição; não há por que refutar, pois é um fato.
Todos os dias, porém, devo tomar vários bilhões de decisões e realizar bilhões de ações. Algumas são pequenas, como apagar uma luz quando não há ninguém no cômodo para economizar eletricidade; outras são maiores, como induzir um pequeno terremoto para evitar um maior. Mas nenhum desses atos é perfeito. Eu poderia ter apagado aquela luz antes, conservando energia. Poderia ter tornado o terremoto um grau mais leve e impedir, assim, que um vaso se espatifasse no chão.
Concluí que existem apenas dois atos perfeitos. São os atos mais importantes que conheço, mas me proíbo de realizá-los e os deixo a cargo da humanidade.
São o ato de criar a vida... e o de tirá-la."

Se você leu a resenha de O Ceifador, sabe o quanto amei todo universo criado por Neal Shusterman, mesmo o gênero não sendo um dos meus queridinhos. Então, não pude conter minha expectativa para esse volume e me vi temendo a decepção, quando o livro chegou por aqui. Mas, ufa! Foi uma leitura muito satisfatória e o final me deixou ainda mais ávida pelos acontecimentos futuros mais sua conclusão. Temos novamente uma construção rica e ágil da nova era - a Nimbo-Cúmulo chega a citar situações em Marte - e notamos o quanto o autor é dedicado a nos aproximar de sua narrativa. A ação se apresenta, logo nas primeiras páginas. Mesmo que alguns momentos soem mornos, não demora a esquentar com segredos, confrontos e claro, reviravoltas.

Mas eu notei. Notei que vinha bomba assim que começaram as apresentações de novos personagens. Sabia que alguém ia partir e fiquei triste por dois personagens, em especial. Vários ceifadores são apresentados no decorrer das quase quinhentas páginas. Alguns vão soar importante para o enredo, como o Ceifador Constantino e outros fazem pequenas aparições como a Ceifadora Beyoncé. Os nomes são ótimos porque eles escolhem personagens importantes da Era da Mortalidade, como patronos. E falando em ceifadores importantes, Faraday não tem um destaque tão grandioso quanto em O Ceifador. Sua participação me soou mais com um radar para o terceiro livro. Toda pesquisa e descobertas que ele faz, parecem pistas para serem emitidas num futuro próximo.

A relação entre Rowan e Citra continua a despertar admiração. O autor prefere os tornar amigos, acima de tudo, e os personagens nutrem uma proteção linda um com o outro. São quase dois anos após os eventos do primeiro livro e podemos notar que algo a mais está florescendo entre eles. Citra continua destemida e inteligente. Ela domina bem todos os confrontos que a Ceifa lhe mete e debate à altura. Rowan está nutrido pela sede de justiça e vemos um lado mais obscuro dele. Não se entrega fácil e isso lhe trás problemas.

"Toda vez que testemunho um ato cruel de um ceifador corrupto, semeio nuvens em alguma parte do mundo e lamento em forma de chuva. É o mais próximo que consigo chegar de lágrimas."

A amada Nimbo-Cúmulo é uma criação extraordinária. Eu queria ser aconselhada por ela. Triste são os momentos em que ela é obrigada a assistir sem proteger; sem feitos, e ainda descobre um grande segredo. Os humanos estragam sua perfeição. A relação dela com Greyson é muito bonita. O garoto é tão apegado e é como se ela realmente fosse uma mãe para ele. Então, imaginem a tristeza que é quando ela é obrigada a cortar ligação com ele, afim de seguir com o plano para proteger Citra e Marie.

Assim como em O Ceifador, Neal Shusterman faz críticas sociais e políticas onde supostamente não deveria ter. Toda abordagem em cima do Texas, me pareceu uma cutucada no governo atual dos EUA e certas permissões no estado. No mundo perfeito, há lugares em que a Nimbo-Cúmulo nunca será bem vista, apenas seus benefícios.

Os momentos finais encerram o livro de maneira impecável. Se me dissessem que tudo terminaria por aqui, acreditaria. Me senti como se estivesse se afogando. Ha! Há redenções, há sacríficios...pena que alguns continuam os mesmos diabólicos de sempre...e se safam.

"A humanidade escolheu a imortalidade e minha função é facilitar essa escolha, já que deixar os semimortos em tal estado seria uma violação grave de lei. Por isso, coleto seus corpos, levo ao centro de revivificação mais próximo e os trago de volta ao normal o mais rápido o possível.
O que fazem depois de ser revividos cabe, como sempre, inteiramente a eles. Há quem pense que ser semimorto pode dar à pessoa mais sabedoria e perspectiva. Às vezes dá, mas nunca dura. No fim, é algo tão temporário quanto a morte.

Bela edição e com fonte confortável para leitura. A capa está tão linda quanto a do primeiro, seguindo o mesmo modelo. Estou em comichão pelo terceiro livro; impossível não ficar depois dos eventos finais deste volume. O autor comentou sobre o terceiro nesta entrevista, clique aqui. E quem sabe até o terceiro ser lançado, a gente já tenha mais notícias sobre a adaptação de O Ceifador. O autor registrou mais uma vez, nos agradecimentos, que está sendo desenvolvida. E eu quero adaptação de A Nuvem, só pelas partes em Perdura.

Autor: Neal Shusterman
Título Original: Thunderhead
Origem: Literatura Americana
Editora: Seguinte
Tradução: Guilherme Miranda
ISBN: 9788555340543
Publicação: 2018
Páginas: 496

Série: Sim - Arc of a Scythe
#1: O Ceifador (Resenha)
#2: A Nuvem
#3: The Toll
O Que Tem?: Violência, Mundo Perfeito, Amigos do Puro Osso

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O Canto Cultzíneo agradece o Grupo Companhia das Letras (Seguinte) por ceder o exemplar para análise.