Livro: A Era dos Mortos | Parte 1 - Rodrigo de Oliveira

E OS HUMANOS DESCOBREM QUE A PIOR DESGRAÇA NÃO SÃO OS ZUMBIS... Vários anos se passaram desde que Uriel, agindo como um tirano, assumiu o controle da maior colônia de sobreviventes do apocalipse zumbi na Terra. E a cada dia, a fome de poder de Uriel e de seu filho, Otávio, aumenta, tornando a vida dos sobreviventes ainda mais penosa. O trabalho escravo se torna a regra. A cobrança de mais e mais tributos e a imprevisibilidade do poder central mantêm todos em constante alerta. Otávio, que passou anos realizando pesquisas médicas, finalmente consegue um meio de controlar os bersekers, os zumbis monstruosos, transformando-os em cães de caça. É a sua forma de assegurar a permanência no comando da comunidade, mas também de destruir, pelo medo, qualquer intenção de resistência. Então, ele produz algo ainda pior, uma criatura feroz e diabólica com o poder de destruição em massa. Há muito em jogo. O governo central ainda considera Isabel uma grande ameaça, seja viva, ou morta-viva, o que poderia transformá-la numa nova Senhora dos Mortos. Mas, duas crianças chamam a atenção de Isabel que decide prepará-las para batalhas ainda mais sangrentas. Serão elas a esperança para o fim daquela era de medo e destruição? A derradeira batalha está para começar, mas os inimigos, humanos e zumbis, também têm suas surpresas. Sejam bem-vindos a uma nova era de horror e violência. Esta é... a Era dos Mortos.

E chegamos a primeira parte, do último capítulo, desta saga eletrizante.

Resenha livre de spoilers!

Como mencionei na resenha anterior, A Ilha dos Mortos marca o final da saga dos integrantes do Condomínio Colinas, conhecidos em O Vale dos Mortos. Nessas duas últimas partes, chamadas A Era dos Mortos, conhecemos novos personagens e um líder super cruel. Sua autoridade abrange todas as comunidades do país. Aqueles que ousam desafiá-lo, são submetidos a terríveis torturas e macabras experiências.

Nessa primeira parte, somos apresentados a infância de Fernando e Sarah. Ambos nasceram durante a nova era, o que já deixa claro que não vivenciaram uma infância comum. De acordo com Isabel, que se encontra com quase cem anos, as crianças serão importantes na conclusão desse confronto. Desde que nasceu, Sarah vive numa comunidade isolada na Serra Catarinense, onde abrigam e protegem Isabel, que para seus inimigos se tornou apenas A Bruxa. A anciã jamais escondeu da menina o quanto ela era importante.

Por outro lado, Fernando foi criado em uma outra comunidade no sul do país. Em outra época, naquele local funcionava uma universidade, que agora se tornou muito eficiente na produção de medicamentos. O menino teve várias oportunidades de se educar, por ter fácil acesso a livros e outras informações. Seu avô mantinha bons negócios com os integrantes do Condomínio Colinas, em troca de proteção, quando Ivan era o grande líder em Ilhabela. Era.

Passaram-se 69 anos e, atualmente, Ilhabela é liderada pelo sádico Otávio. Filho de Uriel, o vice-prefeito de Ivan, ele cresceu sendo os olhos do pai tentando agradá-lo de todas as maneiras. O problema é que Otávio nunca conseguiu o respeito que tanto almejava do pai, já que não o inspirava como um bom líder para o cargo na prefeitura. Vez ou outra, era sempre humilhado ou tratado com deboche. Mas uma coisa pai e filho têm em comum: muita ambição pelo poder.

Otávio cresceu fascinado pelas criaturas, as estudando e fazendo experiências. Com os anos, sua ambição foi além, como quando se interessou pelo dom das gêmeas Jezebel e Isabel. A Bruxa é uma das maiores ameaças ao seu governo. Por que não encontrar alguém a altura? Impiedoso, Otávio enxerga em suas pesquisas uma forma de castigar aqueles que se colocam contra seu domínio. Há várias comunidades espalhadas pelo país, porém uma vez que não recebam a autoridade de Otávio, ele as aterroriza, dizimando a todos ou tornando sobreviventes umas de suas experiências.

A população de Ilhabela mal sabe o que acontece além da fortaleza, em vista que boa parte dos sobreviventes fora dela e que se opõem, são marcados como "terroristas". E esse é o caso de Fernando e Sarah. As duas crianças sofreram com a crueldade do líder, ao assistirem perdas de entes queridos. Com o aval de Isabel, as crianças começam a ser treinadas para eliminar os oponentes e garantir segurança. Conforme Otávio e seus homens cruzam o caminho deles, deixando um rastro de sangue, são marcados e não importa quantos anos passem. Sarah e Fernando jamais esquecerão as dores causadas, e estarão prontos para vingá-las.

"...Uriel conseguiu exatamente o que Ivan sempre temera. O uso da democracia para matar a democracia."

Os zumbis já eram bizarros o suficiente, e agora com uma figura de autoridade que parece ter todo caos sob controle, a saga de Rodrigo de Oliveira toma um rumo assustador. O autor nos trás um enredo aterrorizante, mas suas figuras sobrenaturais agem mais como coadjuvantes. Todo terror parte do grande vilão Otávio, que conhecemos em A Ilha dos Mortos ainda menino. Parecia tão ingênuo.

Não há infância, todos precisam saber como sobreviver. Com a questão do treinamento, Fernando e Sarah são obrigados a correrem riscos, saindo de sua comunidade e encarando a realidade do novo mundo. O treinamento acaba por despertar certo duelo entre os dois, que começam a amizade meio ariscos um com o outro. Um fato que apreciei nessa questão, foi que o autor dividiu o confronto entre as fases da vida dos dois, não deixando nada fácil. Ambos passam por provações, amadurecimento e infelizmente, perdas violentas.

Um ponto assustador, são as questões políticas. Conforme vamos conhecendo esse grande ditador, rola aquele incomodo, de que há bastante coisa parecida com a realidade por ali. E então, a gente se assusta. Me deixou mais estupefata do que os bersekers, os zumbis mais evoluídos. Quem imaginaria que uma saga de terror de zumbis, nos faria temer o destino da humanidade por causa dos próprios humanos?

"Ele era o prefeito. Ele era o líder. Aquela era sua posição por direito, ninguém podia questionar isso."

A primeira parte de A Era nos Mortos nos deixa ansiosos por cada capítulo. Rodrigo de Oliveira tem uma escrita eletrizante. Sabe como deixar o leitor ávido e empolgado por devorar cada página, sabe nos entreter, temendo porém ansiando mais do terrível Otávio. Seus confrontos são dignos de cenas de um filme de ação. Porém, mais sanguinários. Os livros merecem e muito ser adaptados! Um final que nos despedaça e nos deixa tão nutridos de raiva quanto Sarah e Fernando. É tão triste notar que todo ar de amor, união e proteção que Ivan e Estela transmitiam desapareceu completamente.

Só tenho uma única ressalva. Eu vejo a série com uma construção aterrorizante, pois algumas situações beiram o realismo e batem com questões e comportamentos atuais, apesar de todo ar sobrenatural e fantasia. Principalmente nesse volume e no último. Eu acho isso incrível e surpreendente! Contudo, a violência sexual foi abordada no primeiro e segundo volume, então não esperava novamente. Na verdade, eu não queria encontrar mais cenas assim, pois acredito que as primeiras foram o suficiente pra deixar claro "o terror, por parte humana, do novo mundo".

"O ser era imenso, um verdadeiro gigante, e seu cabelo branco e ralo se espalhava por suas costas."

Mais um ótimo trabalho da Faro Editorial neste volume da série. Adorei esse fato das duas capas, das partes finais, se conectarem. As primeiras páginas nos trazem algumas ilustrações e rastros de sangue pelo início dos capítulos. Vi pouquíssimos erros, que não devem incomodar o rendimento da leitura. A ideia é garantir os dois exemplares finais juntos, pois com esse final, impossível não querer pegar o próximo!

Autor: Rodrigo de Oliveira
Origem: Literatura Brasileira
Editora: Faro Editorial
ISBN: 9788595810068
Publicação: 2018
Páginas: 208

Série: Sim - As Crônicas dos Mortos
#1: O Vale dos Mortos (Resenha)
#2: A Batalha dos Mortos (Resenha)
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#3: A Senhora dos Mortos (Resenha)
#4: A Ilha dos Mortos (Resenha)
#5: A Era dos Mortos - Parte Um
#6: A Era dos Mortos - Parte Dois (Resenha)
O Que Tem?: Violência, Mundo em Caos, Zumbis

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O Canto Cultzíneo agradece a Faro Editorial por ceder o exemplar para análise.