Filme: Os Fabelmans (2022)

Em Os Fabelmans, o jovem Sammy Fabelman crescendo no Arizona pós Segunda Guerra Mundial, se apaixona por filmes depois que seus pais o levam para ver "O Maior Espetáculo da Terra". Armado com uma câmera, Sammy começa a fazer seus próprios filmes em casa, para o deleite de sua mãe solidária. Porém, quando o jovem descobre um segredo de família, ele decide explorar como o poder dos filmes nos ajuda a ver a verdade uns sobre os outros - e sobre nós mesmos. Os Fabelmans é uma história vagamente baseada na própria infância do diretor Steven Spielberg, com um jovem aspirante a cineasta no centro da história.

When the horizon's in the middle, it's boring as shit.

Se tem uma coisa que sempre me fez companhia durante estes 34 anos de vida foram os filmes.
Muito antes dos livros fazerem parte do meu dia, não encaixando os obrigatórios da escola, eu me via na companhia de algum filme - geralmente não permitido para minha idade, rs - e hipnotizada por aquele mundo mágico de muitos deles que fizeram minha infância. Na adolescência eu gastava tudo que juntava durante a semana às sextas-feiras, pegando certa pilhinha na locadora. E, nas minhas melhores memórias, podem ter a certeza que eles estão envolvidos de alguma maneira. Assistir Os Fabelmans me transportou a esses momentos; impossível foi tirar o sorrisinho e o brilhinho dos olhos, viu? 

Nem é de se espantar a escolha de Spielberg em tornar sua semi-biografia em um coming of age - em alta nos últimos anos. É um cineasta com uma linguagem abrangente, que sempre soube como encaixar seu cinema a cada nova geração. Não que ele já não cogitasse em levar parte de sua história de vida para as telonas, mas a lapidou para o momento certo ao lado de Tony Kushner, roteirista com quem já trabalhou anteriormente - cito a nova versão de Amor, Sublime Amor e a cinebiografia Lincoln.

Numa noite de 1952, o pequeno Sammy Fabelman foi impactado pela sua primeira experiência diante a uma tela de cinema. O escolhido por seus pais - o clássico de Cecil B. DeMille, O Maior Espetáculo da Terra - laçou o menino por dias a fio até levá-lo a recriar uma cena específica da produção. A ideia ganha apoio da mãe, que até lhe cede uma câmera para filmes amadores e esta se torna uma grande companheira nos próximos minutos da trama. Enquanto cresce imerso neste novo mundo mágico de produções caseiras, Sammy precisará lidar com a vida real: as constantes mudanças de residências, perdas, novas pessoas em sua vida, a adolescência, bullying escolar, seu futuro acadêmico e a eventual crise no casamento de seus pais.

Mateo Zoryan é uma fofura interpretando o pequeno Sammy | credits: Amblin

Burt e Mitzi Fabelman formam um casal judeu de Nova Jersey. Eles animam e apoiam as ideias cinéfilas do filho - e é algo que costuma unir a família. De início eles são retratados bem estilo comercial de margarina, incluindo as três irmãs de Sammy, que reúnem-se em vários momentos para participar das produções do filho - destaco a maravilhosa cena dos escoteiros. Mitzi Falbeman, Michelle Williams vista em Namorados Para Sempre, é musicista, então pode esperar entretenimento puro da família. Mas após a perda da avó materna, Sammy testemunha uma baita virada emocional em sua mãe e começa enxergá-la além das lentes até descobrir A BOMBA. É aquele ponto que toda harmonia do filme dá uma sacudida. Para piorar, Sammy, agora adolescente, embarca em mais uma mudança por causa do emprego do pai, Paul Dano visto em Batman, que é engenheiro da tecnologia. E, desta vez, de uma maneira radical onde toda família para na Califórnia.

A estadia na Califórnia é o ponto de decisão da trama. Com todo desiquilíbrio que a família passa, especialmente com a mudança e a bomba/segredo da mãe descoberto por Sammy, Mitzi sente que não pertence em algumas situações e a união dela com o filho e o marido se torna explosiva. Sammy, Gabriel LaBelle visto na série American Gigolo, desanima com as produções caseiras, mas a chacoalhada do primeiro amor está à espreita. E, infelizmente, é onde ele também lidará com o antissemitismo - ainda no colégio repleto de garotos prontos para tornar sua vida um inferno. Agora, prestes a se formar, Sammy precisa crescer mentalmente, aceitar as reviravoltas drásticas da vida, encarar seu futuro e deixar algumas coisas para trás; daquelas coisas típicas de um bom coming of age.

Sammy na fase jovem adulta é interpretado por Gabriel LaBelle | credits: Amblin

Quem é fã das tramas mais joviais do cineasta, como E.T. e Cavalo de Guerra, certamente Os Fabelmans fará por merecer aquela chance em qualquer tela que você escolher. As referências não gritam, mas estão ali de alguma forma. Embora especial mesmo seja o toque nostálgico que a produção exala a cada momento - acredito que esse ponto tenha feito a explosão de encantamento em minha pessoa, rs. Há a sensação de receber um abraço da família Fabelman em suas reuniões felizes, daí vem a fácil empatia quando a rachadura começa a desenhar.

Não sou a maior fã de cinebiografias. Eu sou bem daquele time de revirar os olhos e reclamar da duração - além da sensação de manipulação em boa parte, cof cof. O trunfo aqui, claro, é como o roteiro explora toda paixão do protagonista pela arte e sua criação. O paralelo que faz com sua vida - real - é um adicional esperado, mas comprometido até o último minuto com o emocional de Sammy. É até de se estranhar a cena final flertando com um alívio cômico. Em boa parte da produção o drama é amenizado por um humor muitas vezes tímido, o que só preserva a simpatia pelo filme.

Apesar desse tom tímido em seu humor, Os Fabelmans é um filme que inicia bem-humorado. Não querem que você pense "olha lá, mais um dramalhão chato!", afinal o cinema e sua arte não são chatos. A versão criança de Sammy, interpretado pelo estreante Mateo Zoryan, é uma fofura e é fácil simpatizar com seu olhar estático durante toda experiência perante ao cinema. Um desses momentos de descontração que marcaram minha mente é quando ele recria a cena do filme, na tentativa de causar o mesmo acidente na ferrovia. Se fosse outro filme seria uma criança considerada psycho, acredito. Ha!

Após se mudar para Califórna, Sammy acredita que encontrou o amor eterno | credits: Amblin

E logo Gabriel LaBelle entra em cena, dando início a fase jovem adulta de Sam e seus conflitos emocionais, que fazem ótimos paralelos com a ideia de "como que a narrativa de um bom filme deve seguir". O rapaz até mantém a simpatia do personagem, mas dificilmente não verá sua figura ocultada por Michelle Williams - em uma de suas melhores performances. Fato que ela fica melhor a cada trabalho. Lindo de assistir todo incentivo maternal que o personagem recebe; daquelas mães confidentes e apoiadoras. Engraçado que há cenas em que Michelle parece personagem de filme do Tim Burton, porque destacam muito o olhar e suas expressões - e aquela peruca só ajuda. Ha!

Não, não vamos ignorar a troca entre pai e filho. Burt Fabelman é o lado realista da história, ele precisa acordar Sammy para a realidade - provavelmente toda vez que anuncia que a família vai se mudar. Ha! Fora que Paul Dano entrega um dos planos mais lindos do filme - imagem abaixo - que fará estudante de cinema palestrar um tempinho pelas redes.

Paul Dano consegue sua cena marcante em Os Fabelmans | credits: Amblin

E também não vou ignorar o Seth Rogen interpretando o tio do pavê. Aliás, todos em torno da família se destacam de uma maneira e influenciam no emocional de seus integrantes. Veja pelo Judd Hirsch que conseguiu chamar atenção da Academia com uma cena de uns trinta minutos - por aí - e abocanhou uma indicação ao Oscar, deixando parte da ala cinéfila surpresa. Mas não vamos alongar em Seth, pois este blog opta por comentários livres de spoilers e, talvez, não me controle. Ha!

Durante as gravações, Spielberg fez questão que todo o elenco ficasse mais próximo o possível de sua história e de seus pais. O diretor mostrava sua memórias, com fotos e vídeos caseiros. Esse ponto foi uma ótima jogada e deu muito certo, só notar a ótima dinâmica construída pelo elenco - até o macaquinho. Por outro lado, embora conte com o retorno da icônica parceria entre o diretor e o musicista John Williams, a trilha não se faz tão marcante como as dos clássicos E.T., Tubarão e Jurassic Park. Falta uma main theme marcante para um filme que se consagra como o mais intimista do diretor.

E no fim será que vem a certeza de que a vida real é uma merda?


Título Original: The Fabelmans
Nacionalidade: Norte-Americana
Produção e Distribuição de: Amblin, Reliance e Universal Pictures
DireçãoSteven Spielberg
Roteiro: Steven Spielberg e Tony Kushner
Roteiro Adaptado? Não
Ano: 2022
Censura: +14
Duração: 2h31min
O Que Assistirei? Biografia Spielberg, Drama, Família Caótica, Macaquinho, Cinema, Coming of Age, Judaísmo
Elenco Principal: Michelle Williams, Gabriel LaBelle, Paul Dano, Judd Hirsch, Seth Rogen, Julia Butters, Mateo Zoryan, Keeley Karsten, Chloe East, Sam Rechner, Oakes Fegley, entre outros.
Trilha SonoraSpotify
Prêmios/Indicações: Indicado a 7 OSCARS Clique aqui e confira prêmios e indicações
Saiba Onde AssistirJUSTWATCH | ALUGUE OU COMPRE

Comentários

  1. Oi, Nanna!
    Uau, eu não conhecia essa história e agora estou muuuuito curiosa para assistir. Como não ouvi falar desse filme antes?!
     Os Delírios Literários de Lex

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  2. Não conhecia o filme e amei a dica. Eu sempre gostei muito de filmes, mas faz bastante tempo que não consigo assistir um filme completo em um único dia. Sempre fico picotando o filme e leva semanas para finalizar.
    Super assistiria esse para ver a jornada.
    Beijos
    https://www.dearlytay.com.br/

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  3. Oi Nana, tudo bem?
    Eu não tenho muito fit com esse tipo de filme, mas fiquei encantada com a sua resenha.
    Adorei real a forma como você foi contando cada detalhe da história e da entrega de cada ator.
    Se me senti curiosa pra conferir, foi mérito seu hahaha porque realmente não é um estilo que me chame a atenção.
    Beijos,

    Priih
    Infinitas Vidas

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  4. Oi Nana! Eu não tinha visto nada sobre esse filme ainda e sua resenha me encantou, me deixou com vontade de conferir essa jornada de vida. Eu também cresci muito envolvida por filmes e via muitos, madrugada a dentro e sessão da tarde. Na época eu contava com TV aberta, locadora demorou para eu conseguir frequentar.
    Bjos!! Cida
    Moonlight Books

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  5. Que legal, já achei a fotografia muito interessante. Curiosa para conferir esse filme.

    www.vivendosentimentos.com.br

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  6. Oii Na,
    Menina, confesso que comecei assistir esse filme e estava tão entediada que parei na metade.
    Mas preciso terminar de assistir pra ter uma opinião 100% hehe

    Beijos,
    https://brenshelf.blogspot.com/

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  7. Oi Nana, tudo bem?
    Já tinha lido o título desse filme em algum lugar, mas não fazia ideia do que se tratava. Achei interessante pela sua resenha e fiquei com vontade de assistir!
    Ah, as locadoras. Que saudade. Melhor forma de assistir on demand que já existiu. Nas férias, todas as minhas tardes começavam em uma locadora. Até o fato das opções serem limitadas ao espaço físico do lugar era mais positivo do que negativo. Infelizmente acho que isso não volta. Até comprar DVD parece que vai ficar difícil daqui pra frente... =/

    Te espero nos meus blogs!
    Mente Hipercriativa (Livros, filmes e séries)
    Universo Invisível (Contos, crônicas e afins)

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  8. Oi
    nem conhecia esse filme, pelo que falou até parece ser interessante, mas não chamou minha atenção o suficiente para querer assistir, mais vou procurar o trailer para dar uma olhada.

    http://momentocrivelli.blogspot.com/

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  9. Ainda não vi, mas já está na minha lista, espero ver em breve!

    Bjxxx
    Ontem é só Memória | Facebook | Instagram | Youtube

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  10. Oi Nana,
    Eu amo filmes e livros de biografia, acho que sempre podemos tirar coisas muito positivas das histórias dos outros. Eu não sabia desse filme, mas já fiquei com vontade de ver ^^
    Obrigada pela indicação =D
    Bjos
    Kelen Vasconcelos
    https://www.kelenvasconcelos.com.br/

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  11. Nossa, eu 100% assistia MIL filmes impróprios para minha idade também, rs.
    Fiquei bem curiosa para assistir, principalmente porque eu adoro o Spielberg (amo, amo, amo Jurassic Park e A Cor Púrpura).

    Bjs!
    https://www.roendolivros.com.br/

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  12. Não conhecia o filme e já me apaixonei pela história.
    Amei o post, beijinhos

    lendocomrenata.com

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  13. Oi Nana, tudo bem?
    Já conhecia o filme pelo título, mas a sua e a primeira resenha que leio. Achei interessante o fato do amor pelo cinema acompanhar as etapas da vida do protagonista. Que bom que curtiu o filme!!

    *bye*
    Marla
    https://loucaporromances.blogspot.com/

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  14. Oieeee,
    Eu não assisti ao filme, mas sei que foi nomeado para o Oscar e fiquei muito curiosa em assistir.. e ao ler agora fiquei bem mais com vontade de assistir. Spielberg tem o meu coração, tudo que ele produz gosto de assistir.

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  15. Eu tb não sou fã de nenhum tipo de biografia, mas, ah, como eu amo os filmes do Spielberg! Estou doida pra conferir esse filme e minha mãe tb, então é um que assistiremos juntas com certeza!

    =)

    Suelen Mattos
    ______________
    Romantic Girl

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